Lesson 1, Topic 1
In Progress

Tabelas Bühlmann

O Módulo 13 – Tabelas e Computadores, do curso CMAS One Star Diver, deu ênfase especial à forma de consultar a Tabela de Mergulho Bühlmann 86, tendo-se definido, a título informativo, quais os parâmetros principais em que se baseiam os cálculos utilizados na sua elaboração.

Neste curso, vamos aprofundar um pouco mais a maneira como essas tabelas são construídas, para podermos perceber porque é que existem inúmeras situações anómalas que podem levar a conclusões erradas quanto à sua fiabilidade.

Assim, baseados na informação fornecida por A. A. Bühlmann, da Universidade de Zurique, vamos explicar os princípios básicos utilizados na sua elaboração. Estamos certos de que estas noções farão o mergulhador pensar muito seriamente nos perigos que estão subjacentes às atividades subaquáticas, mesmo quando “estamos certos” de que nada de mal nos poderá acontecer.

CÁLCULO DA TABELA BÜHLMANN ZHL16


Com base na noção de tecido referida no tópico anterior, para o cálculo da tabela Bühlmann foram considerados 16 “compartimentos”, correspondentes a tecidos orgânicos, com períodos (h) que variam entre os 4 min e os 635 min.

No entanto, é de salientar que esta compartimentação não é estanque, podendo um mesmo tipo de tecido apresentar períodos diferentes, consoante o esforço despendido pelo mergulhador durante a sua permanência debaixo de água.

  • Para um maior esforço
  • Aumento da frequência cardíaca
  • Aumento da irrigação sanguínea do órgão
  • Maior dissolução de azoto no mesmo espaço de tempo
  • Menor o período do tecido

No quadro, podemos observar a correspondência normalmente considerada entre os tecidos do nosso corpo e os 16 compartimentos usados como base de cálculo da tabela. Quanto menor for o período dum tecido (tecido rápido), mais rápida é a libertação do azoto dissolvido, contrariamente ao que acontece com os tecidos de longo período (tecidos lentos), que levam muito tempo a libertar o azoto.

A título de curiosidade, é a partir dos valores indicados na tabela anterior que é construída a tabela de descompressão, cujo cálculo se baseia na expressão matemática:

p = Pp + (((Pa – 0,063) * 0,79) – Pp) * (1 – e -kt)

p = tensão de azoto dissolvido num tecido ao fim do tempo de permanência t

0,79 = percentagem do azoto na mistura respiratória (ar)

0,063 = pressão do vapor de água existente nos pulmões (bar)

Pp = pressão parcial do azoto dissolvido à superfície (1-0,063)* 0,79 = 0,74bar

Pa = pressão ambiente (n/10) +1, em que n é a profundidade (metros)

e = 2,71828

t = tempo de permanência considerado (min)

k = 0,69315/h (h = período do tecido considerado) – ver “A falibilidade das tabelas”

0,69315 = logaritmo natural de 2

(1 – e -kt) = (1 – 0,5 t/h)

MÁXIMA PRESSÃO AMBIENTE TOLERADA


Está provado que, para uma certa pressão ambiente, quanto menor for o período de um tecido, maior é a sua tensão crítica, ou seja, maior é a tensão de azoto dissolvido tolerada pelo tecido.

Por outro lado, verifica-se que a tensão suportada por esse mesmo tecido varia de forma aproximadamente linear com o aumento da pressão ambiente. Daí o nome atribuído à tabela Buehlmann: ZH-L16, em que ZH = Zurich, L = linear e 16 o número de tecidos utilizados.

Isto pode ser verificado na tabela seguinte, onde são mostradas as máximas pressões ambiente toleradas (em bar) nos diversos patamares e à superfície, em função dos períodos dos tecidos considerados.

Aqui podemos verificar que um mergulhador pode chegar à superfície com valores de tensão de azoto dissolvido nos tecidos superiores aos que normalmente tem (0,74bar). Esse valor pode atingir 4,26 vezes mais no caso do tecido h = 4, mas não ultrapassa 1,74 vezes mais no caso do tecido h = 635.

4812,518,52738,554,577109187635
03,152,702,282,091,901,741,621,551,521,431,29
-33,533,082,662,462,262,091,961,881,851,741,61
-63,903,452,032,822,612,442,312,212,182,061,92
-94,283,832,412,182,972,782,652,552,512,382,23
-124,654,202,782,552,323,133,002,882,842,692,54

EXEMPLO

Tomando como exemplo um mergulho feito à profundidade (P) de 33m e com a duração (TF) de 40min, ao fim desse tempo a tensão de azoto dissolvido nos tecidos considerados será a que consta no quadro seguinte. Se relacionarmos estes valores com os da Tabela anterior, verificamos que:

  • O tecido h=635 pode subir diretamente para a superfície (1,29bar)
  • O tecido h=77 pode subir diretamente para a superfície (1,55bar)
  • O tecido h=38,3 só pode subir para os –3m (2,09bar)
  • O tecido h=27 só pode subir para os –6m (2,61bar)
  • O tecido h=12,5 só pode subir para os –9m (3,41bar)
  • O tecido h=4 só pode subir para os –3m (3,53)

COMO TODOS ESTES TECIDOS FAZEM PARTE DE UM TODO (O CORPO HUMANO), A SUBIDA SÓ PODERÁ SER FEITA ATÉ AOS -9M (PRIMEIRA PARAGEM DE DESCOMPRESSÃO), ONDE O TECIDO DE H=12,5 ESTARÁ A LIBERTAR AZOTO ATÉ QUE A SUA TENSÃO ATINJA O VALOR 3,03BAR, PARA PODER SUBIR PARA O PATAMAR DOS –6M (SEGUNDA PARAGEM DE DESCOMPRESSÃO) E ASSIM SUCESSIVAMENTE, ATÉ ATINGIR A SUPERFÍCIE

TECIDO DIRETOR


O tecido que comanda a subida denomina-se tecido diretor, podendo ser definido como o tecido que tem a mais elevada máxima tensão ambiente tolerada, determinando assim a profundidade do patamar de descompressão e o tempo de paragem nesse patamar. De notar que, durante a subida, pode haver vários tecidos diretores, em que os tecidos de períodos mais curtos determinam as paragens mais profundas e os de período mais longo determinam as paragens mais perto da superfície.

INFLUÊNCIA DOS DIFERENTES TECIDOS NA DETERMINAÇÃO DO PERFIL DA DESCOMPRESSÃO

Em cada fase da subida há um tecido que comanda a descompressão (tecido director)

GRUPO RESIDUAL DE AZOTO


Como foi referido no Módulo 13 – Tabelas e Computadores, do curso CMAS One Star Diver, o grupo residual de azoto (GR) é a quantidade de azoto excedentário dissolvido nos tecidos do mergulhador, após a sua chegada à superfície. O valor do GR está representado pelas letras A a H na tabela de descompressão.

Este valor baseia-se na quantidade de azoto existente nos tecidos de período mais longo à chegada à superfície, sendo o tecido h = 239min o tecido escolhido para o determinar. Esta escolha é feita porque este tipo de tecido, devido à sua fraca vascularização, leva mais tempo a libertar o azoto dissolvido após o regresso à superfície, condicionando assim o cálculo dos mergulhos sucessivos e o tempo de espera para voar.

FALIBILIDADE DAS TABELAS


O valor “k” da expressão matemática que permite calcular a tensão de azoto dissolvido num tecido em qualquer momento do mergulho, é k = b * δb / V * δ, em que os parâmetros contidos na expressão estão intimamente ligados à fisiologia do corpo humano:

  • O fator “b” está relacionado com o fluxo sanguíneo (irrigação) de determinado órgão (compartimento).
  • O fator”δb” é o coeficiente de solubilidade do azoto no sangue.
  • O fator “V” é o volume do tecido/órgão.
  • O fator ”δ” é o coeficiente de solubilidade do azoto no tecido/órgão.

QUANTO MAIS LONGO É O PERÍODO, MAIS LENTA É A SATURAÇÃO E DESSATURAÇÃO DO TECIDO. SÃO OS TECIDOS LENTOS QUE COMANDAM O PROCESSO DE DESSATURAÇÃO DURANTE O INTERVALO DE SUPERFÍCIE

Saturação e dessaturação de tecidos com períodos determinados

Por aqui podemos observar que a expressão matemática está indissociavelmente ligada à fisiologia do corpo humano, pelo que oferece a fiabilidade que os seus parâmetros lhe conferem face às possíveis alterações de muitos dos seus fatores. Como será óbvio, estas alterações irão refletir-se no resultado final de um mergulho em que as condições físicas ou emocionais do seu interveniente não se encontram dentro dos limites nele considerados. Este assunto é aprofundado no Curso de Mergulho CMAS Three Star Diver.

Por isso nunca será demais repetir que o sucesso dum mergulho não irá apenas depender do cumprimento integral dos parâmetros indicados nas tabelas utilizadas, mas também da análise criteriosa feita pelo mergulhador ao seu estado físico e psíquico, que irá determinar se pode ou não efetuá-lo. (No Módulo 12 do curso CMAS One Star Diver, ver “Fatores que predispõem ao acidente de descompressão” e no Módulo 3 deste cursol, ver “Procedimentos para um mergulho seguro”).

No final deste módulo insere-se a Tabela Bühlmann 86 que, como se pode verificar, apenas difere da anterior pela tabulação de valores de tempo de fundo (TF) menores para as várias profundidades e para a profundidade de 9m, que não existia na anterior. Estes valores podem ser encontrados na Tabela de Mergulhos Sucessivos onde se apresentam sob a forma de tempo de penalização (TP), compreendendo-se melhor a razão de serem cada vez menores quanto maior for a profundidade a atingir no segundo mergulho, como aliás se pode inferir da definição de Tempo de Penalização, feita no Módulo 13 – Tabelas e Computadores, do curso CMAS One Star Diver.

Julgamos oportuno fazer uma chamada de atenção no que se refere à velocidade de subida. O valor da velocidade de subida utilizado no cálculo da Tabela Bühlmann “86 é, como já foi referido, de 10m/min. Esta velocidade permite fazer uma descompressão contínua e segura para os tecidos saturados, de modo a evitar a formação de bolhas gasosas.

No entanto, Büehlmann recomenda que para mergulhos profundos (profundidades maiores que 30m) se utilize uma velocidade de subida de 15 a 18m/min até à cota dos 30m e daí para cima a velocidade de 10m/min. Esta precaução tem por finalidade evitar que os “tecidos rápidos” absorvam uma quantidade extra de azoto durante a subida até aos trinta metros, o que facilmente sucederia se a subida fosse feita com menor velocidade.

AS SITUAÇÕES EXTRAORDINÁRIAS

Muitas outras situações há a considerar para continuar a afirmar que as tabelas de descompressão não são 100% seguras, podendo referir-se:

  • Shunt pulmonar/vascular
  • A existência do Patent Foramen Ovale
  • Trabalho físico intenso
  • Frio intenso
  • Subida lenta (inferior a 10m/min)
  • Descompressão omitida
  • Subida de emergência (velocidade superior a 10m/min)
  • Demasiados mergulhos sucessivo
  • Voar no final de um período de mergulho intensivo (férias)
  • Problemas médico/fisiológicos: drogas (medicamentos), obesidade, idade

No curso de mergulho CMAS Three Star Diver o mergulhador poderá aprofundar todas estas situações, ficando no entanto desde já o aviso de que não existem padrões internacionais ou regras estabelecidas para o cálculo e validação de processos na elaboração de tabelas de mergulho, pelo que deve ser deixado bem claro que as tabelas, quaisquer que sejam, não são 100% seguras.

PODEM OCORRER SINTOMAS DE INSUFICIENTE DESCOMPRESSÃO MESMO QUANDO SE USAM TABELAS E PROCESSOS DE DESCOMPRESSÃO CONSIDERADOS MUITO SEGUROS