Stress do Mergulhador
O stresse no mergulhador é uma resposta fisiológica e comportamental normal a algum que aconteceu ou está para acontecer que nos faz sentir ameaçados ou que, de alguma forma, perturba o nosso equilíbrio. Quando nos sentimos em perigo, real ou imaginário, as defesas do organismo reagem rapidamente, num processo automático, conhecimento como reação de “luta ou fuga” ou de “congelamento”, é a resposta ao stresse.
Um certo grau de stresse antes de cada mergulho pode ser considerado normal, mas tensão em excesso pode provocar alterações profundas e reações complicadas.
O grande problema do stresse no mergulhador é que numa fase inicial pode passar despercebido gerando posteriormente situações de pânico incontroláveis mesmo em mergulhadores experientes.
POR ESTA RAZÃO O STRESSE NO MERGULHADOR DEVE SER ENCARADO COM MUITA ATENÇÃO NAS SUAS CAUSAS, MANIFESTAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS
1. ELEMENTOS PRIMÁRIOS
O stresse no mergulhador pode ter origens fisiológicas ou psicológica, devendo o Rescue Diver reconhecer os fatores que influenciam o stresse.
Causas iniciais
- Pequenos problemas físicos ou emocionais podem ter um desenvolvimento explosivo na água e provocar situações de grande conflito.
Predisposição individual
- A reação a um problema depende naturalmente da experiência do mergulhador e da sua capacidade de resposta. A mesma situação pode ser complicada para um mergulhador num dado momento e nem sequer ser problema para outros. Esta predisposição varia de dia para dia e de pessoa para pessoa.
Como lidar com o stresse
Reconhecer os limites pessoais e manter-se em condições que lhe permitam efetuar determinado tipo de mergulho. Nunca exceder os limites pessoais que, como é óbvio, variam de situação para situação e na mesma pessoa de dia para dia. Um mergulhador muito experiente pode num determinado momento estar adoentado, cansado ou até perturbado, diminuindo drasticamente a sua capacidade de resposta. Deve ser-se capaz de renunciar a determinado mergulho.
É MAIS SAUDÁVEL, SENSATO E CONSCIENTE QUE TENTAR ULTRAPASSAR LIMITES DE SEGURANÇA
2. STRESSE FISIOLÓGICO
Deriva de razões físicas e não emocionais. Frequentemente este tipo de stresse pode evoluir para um stresse psicológico criando um medo de não ser capaz de ultrapassar a dificuldade inicial, gerando pânico e atitudes descontroladas e perigosas.
O perigo fundamental é não reconhecer os efeitos ou sinais causados pelo stresse fisiológico. A reação é intempestiva e pouco controlável.
Causas e exemplos de estados de stresse fisiológico:
- Frio – proteção térmica inadequada
- Enjoo – predisposição individual
- A narcose – predisposição individual e profundidade
- Cansaço – predisposição individual, sono e má preparação física
- Esgotamento – deficiente condição física
- Doença ou ferimento
- Droga, medicamentos ou álcool
- Desconforto ou as funções diminuídas causados por equipamento mal adaptado ou funcionando mal (um colete muito grande, um fato fino demais para uma dada temperatura de água ou umas barbatanas apertadas geram desconforto e diminuição da capacidade de resposta a um problema)
3. STRESSE PSICOLÓGICO
O stresse psicológico é causado por razões essencialmente emocionais ou medos de não ser capaz de cumprir determinada tarefa.
As convicções e atitudes pessoais têm um papel fundamental neste tipo de stresse, levando o mergulhador a reagir de forma muito diversa. O stresse psicológico pode por isso ser real ou imaginário. A angústia causada por este tipo de stresse pode provocar reações inesperadas e descontroladas, mesmo em mergulhadores experientes.
O stresse psicológico pode facilmente refletir-se em problemas físicos como cãibras ou falta de coordenação motora. A reação impulsiva para resolver a situação pode ser um desastre.
Causas possíveis e exemplos de casos de stresse psicológico
- O medo – de não ser capaz de nadar até ao barco ou de o ar não ser suficiente para chegar à superfície pode gerar um conflito importante no comportamento e reação do mergulhador.
- Convicções e atitudes pessoais – Acreditar mais ou menos nas suas possibilidades e capacidades de resolução influenciam de maneira significativa a reação a este tipo de stresse.
- Tarefa com maior grau de dificuldade – A mesma tarefa pode ser difícil para um mergulhador e fácil para outro. A experiência e conhecimentos são fundamentais nestes casos.
- Demasiada pressão dos companheiros – Atenção especial à pressão e influência dos companheiros, sobretudo para os menos experientes, que podem reagir com uma espécie de pânico passivo a uma tarefa que, sendo fácil para os outros, lhes parece extremamente pesada.
- Perceção que os riscos são maiores que o normal – Situações de preocupação e angústia tais, onde pequenos problemas que se resolvem em circunstâncias normais sem sobressaltos parecem grandes problemas, induzindo o sentimento que o risco é maior do que seria para uma pessoa em circunstâncias normais. A tarefa de tirar água do tubo em circunstâncias normais poderá ser um pesadelo numa situação de grande aflição.
- O stresse psicológico pode ser real ou imaginário – Há medos que são reais, todavia um mergulhador toldado pela angústia tem tendência a considerar perigos imaginários, reagindo negativamente.
O stresse psicológico pode resultar em:
- Ansiedade e angústia
- Distração e diminuição da capacidade de raciocínio
- Diminuição das funções motoras
- Pânico
4. A FISIOLOGIA DO STRESS
O organismo reage produzindo adrenalina com aumento do ritmo respiratório resultando numa diminuição da eficácia respiratória, podendo levar a uma sensação de sufoco. Perturbações da coordenação motora podem ser evidentes nesta situação.
O aumento do stresse é pouco percetível. O grande perigo deste tipo de stresse reside no facto de ser pouco percetível não dando sinais evidentes.
DE UMA SITUAÇÃO NORMAL AO PÂNICO GENERALIZADO PODERÁ SER UM INSTANTE
5. RECONHECIMENTO DO STRESSE
Um mergulhador com equipamento todo novo, emprestado ou mal adequado deve levantar suspeitas.
Também quem queira ir mergulhar sem ter feito mergulho há muito tempo, ou quem pareça comprometido ou atrapalhado com a montagem do equipamento ou preparação do mergulho, sugere um quadro de falta de adaptação que deve ser considerado e investigado.
Este reconhecimento requer um sentido de observação desenvolvido e experiência para identificação correta dos comportamentos e oferta de soluções pacificadoras.
Deve investigar-se (fazer perguntas discretas) para avaliar o significado real do comportamento de determinado mergulhador, e oferecer sugestões e possibilidades que tendam a apaziguar e reduzir as dificuldades por ele sentidas
Estar sempre atento quando o comportamento é anormal ou impróprio é uma forma de minimizar as situações de conflito e uma oportunidade de sugerir técnicas e comportamentos, dentro dos limites do razoável, para determinado mergulhador
6. ORGANIZAÇÃO PERANTE O STRESSE
Organizar significa tomar uma série de atitudes refletidas, com uma sequência lógica, com o objetivo de solucionar uma situação conflituosa.
Para se otimizar a organização face a uma emergência, deve refletir-se sobre as suas várias vertentes, de forma a tirar conclusões que permitam uma maior eficácia.
- Reconhecer o problema é uma das formas que permite tomar as atitudes corretas conducentes à resolução desse problema específico e não outras atitudes sem interesse para esse problema.
- Propor um plano de ação é garantir que se tomam as melhores soluções para aquele problema, naquelas circunstâncias.
- Implementar o plano de ação é tomar as atitudes aprovadas para o problema em questão de forma sequencial e com toda a eficácia possível.
- Eliminar ou minimizar o problema acaba por ser a consequência e objetivo das atitudes do Rescue Diver.
O RESCUE DIVER TEM QUE TRANQUILIZAR O MERGULHADOR EM STRESSE SEM O JULGAR OU AMEAÇAR
DEVE AJUDAR E NÃO RECRIMINAR
O OBJETIVO É PREVENIR OU ULTRAPASSAR SITUAÇÕES DE CONFLITO E NÃO GERÁ-LAS OU CRIAR MAIS DIFICULDADES