Os Efeitos do Azoto no Mergulho

A NARCOSE DO AZOTO
Verifica-se que este gás respirado a pressões parciais elevadas tem um efeito tóxico sobre o sistema nervoso central. Esta intoxicação é conhecida por narcose do azoto ou como vulgarmente é designada por bebedeira das profundidades.
A severidade deste efeito depende da profundidade do mergulho, da velocidade de compressão (descida) e da experiência do mergulhador. Os efeitos são directamente proporcionais ao aumento da profundidade, mas não aumentam com a permanência à mesma profundidade.
Apesar de existir uma susceptibilidade variável entre diferentes indivíduos considera-se que todos os mergulhadores estão expostos a essa intoxicação a partir dos 30 metros, embora existam casos descritos a profundidades inferiores.
Constata-se que um mergulhador adquire alguma habituação aos efeitos narcóticos do azoto quando exposto repetidamente a mergulhos profundos.
O efeito narcótico em si não é perigoso e reverte rapidamente ao regressar à superfície. O perigo é o facto de um mergulhador com a narcose poder ter um comportamento inadequado que provoque o acidente.
Esta intoxicação caracteriza-se pela diminuição do desempenho intelectual e de destreza manual e ainda por alterações do comportamento.
As funções superiores, raciocínio, memória recente, aprendizagem e concentração são as primeiras a ser afetadas. O mergulhador pode sentir uma falsa sensação de bem-estar e excesso de confiança ou pelo contrário, focalizar-se em determinados pormenores (manómetro, profundímetro, …) e entrar num estado de grande ansiedade.
Algumas drogas sobretudo o álcool e os sedativos têm um efeito aditivo na narcose pelo que não se deve mergulhar sob o seu efeito.
Outros efeitos aditivos são a ansiedade, o frio e a fadiga.
A exposição a valores anómalos de dióxido de carbono também potencia uma maior suscetibilidade à intoxicação pelo azoto.
PREVENÇÃO DO ACIDENTE
A prevenção do acidente consiste em:
- Estar sempre atento às suas reações e às do companheiro de mergulho
- Limitar a profundidade do mergulho em função da experiência do mergulhador
- Manter o equilíbrio térmico normal
- Evitar esforços debaixo de água
- Manter o controlo da respiração – Nunca se deixar controlar pela respiração
- Não mergulhar se estiver cansado, com problemas de saúde ou outros
- Fazer preceder os mergulhos profundos de um período de repouso
- Descer lentamente
Os procedimentos perante este acidente consistem em diminuir a profundidade do mergulho e em casos mais sérios deverá o mergulhador abortar o mergulho e regressar à superfície.
A DOENÇA DE DESCOMPRESSÃO
Como foi referido no capítulo um deste módulo, toda a quantidade de azoto que se dissolve no nosso corpo enquanto estamos mergulhados será libertada quando regressarmos à superfície. Devido à consequente diminuição de pressão, esta libertação é feita através das trocas respiratórias ao nível alveolar.
Isto não quer dizer que ao chegarmos à superfície tenhamos eliminado todo o azoto que dissolvemos durante o mergulho.
Na realidade ao atingirmos a superfície ainda existe uma certa quantidade de azoto que irá libertar- se após terminado o mergulho.
Sabemos, no entanto, que o nosso organismo pode suportar uma pressão parcial de azoto superior à que normalmente tem dissolvido com limites bem definidos, se respeitarmos os seguintes parâmetros: profundidade do mergulho, tempo de fundo e velocidade de subida.
O não cumprimento destes parâmetros pode originar graves problemas ao mergulhador dada a libertação indevida de bolhas de azoto nos tecidos e vasos sanguíneos.
Estas bolhas provocam uma alteração fisiológica de maior ou menor gravidade, chamada “doença ou acidente de descompressão”.
Uma vez que a doença de descompressão pode interferir com a função de um grande número de tecidos do organismo, o número de potenciais sinais e sintomas é vasto, podendo a sua evolução ser progressiva, estática, melhorar espontaneamente ou recidivar.
As manifestações da doença de descompressão podem ocorrer isoladas ou combinadas. Citamos entre outras:
- Alterações gerais: cefaleias, fadiga exagerada, náuseas e vómitos, mal-estar geral
- Alterações cutâneas: vermelhidão, inchaços
- Sintomas dolorosos: nas articulações dos membros
- Alterações neurológicas de maior ou menor gravidade
Há um elevado número de fatores que predispõem à doença de descompressão, tais como o cansaço, a desidratação, o frio, os esforços físicos violentos durante e após o mergulho, a idade, a obesidade, o consumo de álcool, as drogas, a má forma física, o perfil do mergulho.
A seguir a um mergulho, teremos de ter em atenção, que a diminuição de pressão que acontece quando viajamos de avião ou subimos uma montanha, pode provocar um acidente de descompressão.
PREVENÇÃO APÓS MERGULHO
A principal prevenção no sentido de evitar a ocorrência deste acidente é a imposição de limites de profundidade/tempo de mergulho/velocidade de subida, que são traduzidos sob a forma de Tabelas.
No entanto, face aos fatores adjuvantes atrás referidos, podemos citar outros tipos de prevenção tais como:
- Manter o equilíbrio térmico normal
- Evitar esforços debaixo de água
- Não mergulhar se estiver cansado, com problemas de saúde ou outros
- Beber muitos líquidos (água de preferência) antes do mergulho
- Não ingerir bebidas alcoólicas
- Respeitar as tabelas de mergulho relativamente aos procedimentos após o mergulho
REDUÇÃO DOS EFEITOS DO AZOTO NO MERGULHO
Pelo que atrás foi exposto não é difícil compreender que a prevenção destes tipos de acidente poderá também passar pela redução da pressão parcial (Pp) do azoto respirado a uma determinada profundidade, pelo que uma das maneiras mais fáceis de conseguir esta redução é sem dúvida a diminuição da percentagem deste gás na mistura respirada.
Face às considerações feitas, facilmente compreenderemos que o enriquecimento em oxigénio duma mistura respirável (EANx) virá ao encontro da solução pretendida.
Os benefícios daí advindos são imediatos sobretudo se, enquanto utilizamos as misturas enriquecidas, planearmos e executarmos o mergulho em termos de respirar ar atmosférico.