O Profundímetro
Antes de iniciar a leitura deste capítulo aconselhamos, a leitura do Módulo 3 – Equipamento de Mergulho Diverso, do manual do curso CMAS One Star Diver.
Submetido a uma forte concorrência por parte dos computadores de mergulho, que simplificam todos os cálculos, o profundímetro continua a ser um instrumento de trabalho talvez não totalmente dispensável.
Tendo em conta a forma como funciona um computador, quando utilizamos o trio profundímetro-relógio-tabela, compreendemos mais facilmente as situações em que o computador atinge os seus limites e estamos melhor preparados para fazer face a um eventual problema devido a um possível mau funcionamento. Mais ainda, no caso de mergulhos do tipo retangular, o profundímetro, apoiado pelos seus dois “parceiros”, se for bem utilizado e as tabelas forem corretamente cumpridas, oferece uma margem de segurança acrescida.
Muitos tipos de profundímetro são populares entre os mergulhadores. No entanto, pouco conhecido é o seu funcionamento, assim como os erros de leitura que estes instrumentos apresentam em determinadas situações, devido à sua própria conceção. Sem pretender fazer uma análise exaustiva, vamos apresentar as características gerais dos tipos mais utilizados, detendo-nos especialmente nos erros introduzidos quando são utilizados em mergulhos feitos acima do nível do mar.
PROFUNDÍMETRO DE TUBO CAPILAR (TIPO I)
O princípio de funcionamento destes aparelhos baseia-se na lei de Boyle-Mariotte, cuja expressão é P x V= constante. Estes profundímetros medem a razão entre a pressão ambiente a uma determinada profundidade e a pressão atmosférica à superfície.

A escala é não linear (a graduação é muito mais espaçada no início) e está calibrada para dar leituras corretas a partir da superfície, sendo a pressão de referência a pressão atmosférica tomada a esse nível. Por isso, em altitude, este tipo de aparelho dará sempre uma leitura maior do que a profundidade verdadeira. O fator de erro é a relação entre a P atmosférica ao nível do mar e a P atmosférica à altitude considerada.
Este tipo de aparelho não admite qualquer correção ou ajustamento. O erro em valor absoluto cresce com a altitude e com a profundidade do mergulho, mas o erro relativo é constante para uma determinada altitude.
A profundidade real do mergulho pode ser calculada multiplicando a leitura do profundímetro pela pressão atmosférica (em bar) existente no local de mergulho.
PROFUNDÍMETRO DE MEMBRANA E DE TUBO DE BOURDON (TIPO II)
Estes aparelhos utilizam uma caixa fechada, com pelo menos uma das faces a atuar como membrana flexível, e um tubo fechado cuja curvatura varia com a pressão. Durante o fabrico, a pressão interna da caixa ou do tubo é normalmente calibrada para 1 bar, sendo esta a pressão de referência do instrumento (alguns possuem um parafuso para ajustar a pressão de referência à superfície).

Este tipo de aparelho mede a diferença entre a pressão de referência interior e a pressão ambiente do local em que se encontra (a deformação, tanto da membrana como do tubo, é aproximadamente linear e proporcional ao diferencial de pressões). Consequentemente, a escala é linear.
Se a pressão atmosférica, a uma determinada altitude, for menor que a pressão de referência no interior da caixa, a leitura será inferior à profundidade real. Tratando-se de uma medição diferencial, o erro aumentará com a altitude, mas será constante (relativamente à profundidade) para essa altitude. O erro é proporcional à diferença entre a P atmosférica à altitude considerada e a P referência da caixa (P atm – P ref caixa). Assim, a profundidade real do mergulho pode ser calculada adicionando à leitura do profundímetro a diferença entre a pressão atmosférica ao nível do mar e a pressão atmosférica existente no local de mergulho (metros de coluna de água).
Se não houver possibilidade de ajuste da pressão de referência, as leituras da profundidade só serão corretas se a pressão de referência da caixa for perfeitamente igual à pressão atmosférica no local do mergulho.
PROFUNDÍMETRO DIGITAL E COMPUTADOR DE PROGRAMA FIXO (TIPO III)
Estes instrumentos utilizam um programa fixo para uma dada pressão atmosférica. Muitos consideram apenas a pressão atmosférica ao nível do mar (instrumentos mais limitados), enquanto que outros utilizam a pressão atmosférica existente a altitudes pré-selecionadas (1000m, 1500m, etc.).

Nos computadores que utilizam altitudes pré-selecionadas, apenas se conseguem leituras corretas da profundidade e cálculos de descompressão corretos se a pressão atmosférica correspondente à altitude de referência selecionada for exatamente igual à pressão atmosférica existente no local mergulho. Se isso não acontecer gera um erro, que tanto pode ser positivo como negativo.
Estes instrumentos têm, geralmente, um aviso que indica que os mergulhos vão ser feitos acima do limite superior da sua escala de altitudes.
COMPUTADOR COM AVALIAÇÃO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA (TIPO IV)
Estes aparelhos registam a pressão atmosférica ao serem ativados (por contacto com a água ou por ativação prévia), memorizando-a como pressão de referência. Assim, as leituras da profundidade e os cálculos de descompressão são sempre corretos. Efetivamente, estes cálculos só podem ser verdadeiros se os limites de tensão de azoto suportados pelos tecidos do modelo matemático utilizado estiverem relacionados com pressão ambiente a que estão submetidos.

Normalmente, todas as leituras de pressão são baseadas no pressuposto que 10m de coluna de água equivalem a 1bar. Assim, o erro será +/- 1 a 2%. Alguns destes aparelhos estão calibrados para água doce ou para água salgada.
Podemos ver a seguir a diferença de comportamento dos diversos tipos de aparelho em três situações de um mergulho em altitude.
A utilização de alguns destes equipamentos requer alguns cuidados que porventura podem ter caído no esquecimento com o uso do computador.

EXEMPLO 1
Início de mergulho a uma altitude de 2000m, com uma pressão atmosférica de 0,8bar. Profundidade verdadeira: 0m.
PROFUNDÍMETRO | TIPO I | TIPO II | TIPO III | TIPO IV |
---|---|---|---|---|
Pressão inicial de referência | 1 bar | 1 bar (não ajustável) | 0,9 bar (1000m – altitude pré-seleccionada) | 0,8 bar (à altitude considerada) |
Fator de erro | Inexistente à superfície | -0,2 bar (constante) | -0,1 bar (constante) | 0 bar |
Leitura da escala | 0m | -2 m* | 0m (modo superfície) | 0m (modo superfície) |
Diferença para a prof. real | 0m | -2 m | 0m | 0m |

EXEMPLO 2
Mergulho a uma altitude de 2000m com uma pressão atmosférica de 0,8bar. Profundidade verdadeira: 10m.
PROFUNDÍMETRO | TIPO I | TIPO II | TIPO III | TIPO IV |
---|---|---|---|---|
Pressão inicial de referência | 1 bar | 1 bar (não ajustável) | 0,9 bar (1000m – altitude pré-seleccionada) | 0,8 bar (à altitude considerada) |
Fator de erro | I1:0,8 = 1,25 (razão) | -0,2 bar (constante) | -0,1 bar (constante) | 0 bar |
Leitura da escala | 12,5 m | 8m | 9m | 10 m |
Diferença para a prof. real | +2,5 m | -2 m | -1 m | 0m |

EXEMPLO 3
Mergulho a uma altitude de 2000m, com uma pressão atmosférica de 0,8bar. Profundidade verdadeira: 40m.
PROFUNDÍMETRO | TIPO I | TIPO II | TIPO III | TIPO IV |
---|---|---|---|---|
Pressão inicial de referência | 1 bar | 1 bar (não ajustável) | 0,9 bar (1000m – altitude pré-seleccionada) | 0,8 bar (à altitude considerada) |
Fator de erro | I1:0,8 = 1,25 (razão) | -0,2 bar (constante) | -0,1 bar (constante) | 0 bar |
Leitura da escala | 50 m | 38m | 39m | 40 m |
Diferença para a prof. real | +10 m | -2 m | -1 m | 0m |
O mergulhador deve assegurar-se à partida que o aparelho está bem fixado ao pulso e que a correia está bem apertada, para evitar que no fundo comece a rodar em torno do pulso dificultando ocasionalmente a leitura.
- Nos modelos com ponteiro de arrasto, não esquecer de repô-lo no zero antes de iniciar a descida.
- Verificar o perfeito funcionamento dos modelos eletrónicos ao entrar na água (depois já pode ser tarde). Geralmente, nestes aparelhos, o painel afixa todos os dados ou começa a piscar quando é ligado.
- Durante a descida, verificar se a função “contagem do tempo” está a funcionar (normalmente, o arranque faz-se entre 1 e 2 metros de profundidade).
- Durante o mergulho, consultar regularmente o profundímetro (sem cair no exagero), sobretudo em águas claras, onde o mergulhador tem tendência para descer sem dar por isso.
- É boa norma manter-se a uma profundidade inferior àquela que foi programada no início do mergulho, como precaução contra qualquer incorreção do aparelho e sobretudo porque pode acontecer uma descida imprevista.
- Ao chegar à profundidade prevista, sobretudo se for utilizado um profundímetro clássico, é conveniente comparar a leitura com a do profundímetro do companheiro de mergulho, para verificar se existe algum erro.
- Deve tomar-se a precaução de memorizar a profundidade máxima atingida, mesmo que se utilize um profundímetro digital ou com agulha de arrasto.
O profundímetro é um bom auxiliar para controlar a velocidade de subida, mas é conveniente não ganhar o hábito de olhar apenas para o profundímetro durante a subida. Não esquecer que o aumento da luminosidade e o deslocamento de partículas em suspensão são pontos de referência da aproximação à superfície.
Durante os patamares de descompressão, sobretudo no patamar dos três metros, onde manter a profundidade estável é de extrema importância, deve-se consultar frequentemente o profundímetro.
- No patamar dos três metros, convém não confiar em excesso na precisão dos aparelhos mecânicos (exceto o de tubo capilar) e deve-se controlar com frequência a superfície para obter um indicação auxiliar.
- Ao chegar à superfície, não se esquecer de registar o mergulho com o maior número de pormenores … para mais tarde recordar!