O Mecanismo dos Acidentes de Mergulho
O mecanismo dos acidentes de mergulho devido à variação da pressão, (acidentes disbáricos) consiste na formação e crescimento de bolhas dentro do organismo, as quais provocam falta de oxigénio ou hipóxia. O afogamento ocorre quando a água entra nos pulmões e dificulta a passagem do oxigénio para o sangue. A intoxicação pelo monóxido de carbono ocorre por inalação de ar contaminado com este gás que impede a hemoglobina de transportar oxigénio até aos tecidos criando uma situação de hipóxia grave.
PRÉ-AFOGAMENTO
Afogamento significa morte por asfixia após submersão em meio líquido.
Pré-afogamento refere-se à situação em que a vítima recupera, nem que seja temporariamente, do episódio de submersão. Vítimas reanimadas após a submersão mas que morrem nas 24 horas seguintes são consideradas vítimas de afogamento.
É a terceira causa mundial de morte acidental (150 mil mortes/ano) e 90% acontecem até 10 metros de profundidade maioritariamente (90%) em água doce (rios, piscinas).
Cerca de 15% são afogamentos secos, isto é, devido a um severo laringo espasmo não há aspiração de água para os pulmões. Os restantes são afogamentos húmidos que, independentemente de acontecerem em água doce ou salgada, provocam uma destruição do surfactante da parede pulmonar lesionando os alvéolos e levando ao seu colapso. Perdem a capacidade de efetuar as trocas gasosas com o sangue.
Uma agressão pulmonar, como é a introdução de água, pode provocar um edema pulmonar, ou seja, a libertação de líquido dentro dos pulmões. O pré-afogamento desencadeia toda uma série de sinais e sintomas, tais como, a perda de consciência, dores torácicas, enjoo, vómitos, coloração azul da pele (cianose), dificuldade respiratória, tosse e expetoração mucosa.
O mergulhador acidentado que apresenta sintomas de pré-afogamento necessita de níveis muito altos de oxigénio para combater os efeitos nocivos da hipóxia.
SÍNDROME DE SOBREPRESSÃO PULMONAR
Os acidentes de mergulho, mais graves, incluem duas situações:
- Doença de descompressão
- Síndrome de sobrepressão pulmonar
Como os primeiros socorros e o tratamento destes acidentes são quase idênticos, não é fundamental diferenciar um do outro, mas sim, reconhecer os sintomas que aparecem depois de uma imersão. É preciso lembrar que o acidente pode ocorrer a qualquer profundidade e sem causa aparente.
Quando sucede um barotraumatismo pulmonar, mais frequentemente durante a subida de uma imersão com escafandro, pode-se produzir um embolismo gasoso arterial.
O ar que foi introduzido na corrente sanguínea pode atingir o coração, bloquear os grandes vasos arteriais, ou passar diretamente para o cérebro e causar sintomas súbitos e graves. Ainda que o síndrome da sobrepressão pulmonar ocorra por vezes sem causa aparente, é frequente que esteja relacionado com a retenção da respiração durante a subida, e/ou com uma velocidade de subida excessiva, congestão pulmonar, asma, doenças pulmonares ou outras situações que provoquem retenção do ar.
SINAIS |
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Perda de Consciência |
Enjoo |
Paralisia ou Fraqueza Muscular |
Convulsões |
Paragem Respiratória |
Hemoptises (Sangue pela boca procedente do aparelho respiratório) |
Alterações da Personalidade |
Morte |
SINTOMAS |
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Alterações da Visão |
Dor Torácica (Costal e Retroesternal) |
Desorientação |
Formigueiros |
Alterações na Sensibilidade |
ACIDENTES DE DESCOMPRESSÃO
Deve-se a formação de bolhas durante a subida em resultado do excesso de azoto (ou de outro gás inerte) acumulado nos tecidos durante o mergulho.
As bolhas podem provocar efeitos mecânicos ou bioquímicos. Os efeitos mecânicos incluem rutura dos tecidos e diminuição/interrupção do fluxo sanguíneo. Os efeitos bioquímicos incluem a ativação dos mecanismos endógenos de resposta inflamatória e hemostática (cicatrização).
As bolhas manifestam-se de diferentes formas consoante a sua localização:
SINTOMA | LOCALIZAÇÃO |
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Dor | Nas articulações |
Alterações Sensitivas ou Motoras | Na espinal-médula |
Dificuldades Respiratória | Nos pulmões |
Alterações na fala, audição ou consciência | No cérebro |
Prurido (Comichão) e “rush cutâneo” (vermelhão) | Na pele |
A forma mais grave de doença de descompressão desencadeia-se por um mecanismo de embolismo gasoso arterial no final do mergulho. As bolhas arteriais atingem o cérebro e/ou espinal-medula, expandem-se rapidamente devido ao excesso de azoto acumulado surgindo manifestações de doença descompressiva cerebral e medular.
Os sinais e sintomas dos acidentes de descompressão incluem:
SINAIS |
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Prurido, irritação da pele |
Fraqueza muscular |
Paralisia |
Prostração |
Alterações da personalidade |
Pupilas assimétricas |
Alteração da fala |
Tosse ou dificuldade respiratória |
Colapso e perda de consciência |
SINTOMAS |
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Ardor na boca |
Dor nos membros ou nas articulações |
Fadiga |
Adormecimento e Formigueiros |
Alterações da sensibilidade |
Dor torácica ou abdominal |
Alterações da audição |
Dificuldade em urinar, ou incontinência urinária ou retal |
Dor de cabeça, enjoo ou náuseas |
É possível que os sintomas assumam características de extrema gravidade com compromisso das funções vitais (paragem respiratória, paragem cardíaca) ainda que seja pouco frequente.
Algumas vezes os sinais e sintomas desaparecem sem tratamento, mas existe sempre a possibilidade de ocorrerem lesões graves permanentes se o tratamento tardar ou for omitido.
É essencial administrar oxigénio a 100% logo que apareçam os primeiros sintomas ou sinais, e mante-lo durante o transporte até ao hospital, com o qual poderá ser aumentada a probalidade de uma total recuperação (fator de muito bom prognóstico).