Lesson 1, Topic 1
In Progress

Normas Aplicadas ao Mergulho Científico

Como mergulhador CMAS Three Star Diver (P3), apesar de não poder integrar equipas de mergulho cientifico, poderão existir situações em que o centro de mergulho onde tem funções de guia de mergulho prestar um serviço de saídas de mergulho a uma equipa de investigadores.

É importante entendermos que o mergulho científico apesar de legalmente ser mergulho recreativo para fins culturais e científicos, apresenta particularidades especificas no seu planeamento que levam a alterar o planeamento normal de uma saída de mergulho recreativo.

Para formar equipas de mergulhadores cientificos a CMAS apresenta uma carreira de mergulho cientifico com dois níveis de certificação:

  • Scientific Diver
  • Advanced Scientific Diver

A CMAS publicou orientações para o uso de computadores em operações de mergulho cientifico. O uso de computadores apresentam a vantagem de prolongar em segurança os tempos de mergulho, no entanto existe o perigo de que o seu uso não seja realizado de um modo racional por parte dos mergulhadores, podendo provocar situações de risco, uma vez que a fisiologia do mergulhador é levada aos limites.

As pequenas variações ou incertezas que seriam aceitáveis em mergulhos de tipo mais conservador (usando tabelas de descompressão), podem neste caso originar acidentes de descompressão.

Com base nas recomendações da American Academy of Underwater Sciences (AAUS), Nature Conservancy Council (NCC) e Australian Institute of Marine Science (AIMS), o Comité Científico da CMAS compilou um conjunto de normas para o uso dos computadores de mergulho, no decurso de operações de mergulho científico. Estas recomendações apresentam um conjunto de princípios, que asseguram uma margem de segurança no uso de computadores de mergulho. Além disso, asseguram também que os mergulhos e os perfis de descompressão ficam adequadamente registados, protegendo quer os mergulhadores quer os supervisores da equipa de mergulhadores e instituições científicas.

As vantagens apresentadas, em teoria, pela utilização dos computadores de mergulho são as seguintes:

  1. Maiores tempos de fundo sem necessidade de realizar paragens de descompressão obrigatórias, em comparação com o uso das tabelas convencionais.
  2. Optimização do cálculo da acção dos gases inertes durante mergulhos sucessivos.
  3. Possibilidade de efectuar perfis de mergulho variáveis, enquanto os requisitos de descompressão são calculados com base na acção dos gases inertes.
  4. Possibilita fazer uma subida gradual em vez de patamares de descompressão.
  5. A opção de prever futuros mergulhos com base na acção dos gases inerte acumulados em mergulhos anteriores.

Apesar do uso crescente dos computadores de mergulho e dos bons resultados em termos de segurança, existem dúvidas acerca da sua fiabilidade em múltiplos mergulhos sucessivos, principalmente em condições adversas ou em subidas muito rápidas. Além disso, alguns modelos têm um passado de falhas mecânicas ou electrónicas.

Por outro lado, como nem todos os modelos são baseado no mesmo algoritmo, mergulhadores que usem diferentes computadores, receberão instruções distintas.

RECOMENDAÇÕES

A utilização de computadores de mergulho é recomendada com precaução. É importante que se ganhe mais experiência com os computadores, durante mergulhos devidamente registados. Tal experiência poderá ser ganha pela comunidade científica, de acordo com as seguintes recomendações:

  1. Só poderão ser utilizados os computadores de mergulho cujas marcas e modelos tenham sido aprovadas pelo supervisor de mergulho de uma determinada instituição. Os descompressímetros mecânicos nunca poderão ser usados.
  2. Os mergulhadores deverão estar familiarizados com as instruções dos fabricantes e os procedimentos para a utilização dos computadores de mergulho. As instituições são aconselhadas a ministrar formação no uso dos modelos aprovados.
  3. Um mergulhador que utilize o computador de mergulho para planear os mergulhos ou seguir as indicações de descompressão, deverá ter o uso exclusivo desse instrumento durante o mergulho ou mergulhos sucessivos.
  4. Os futuros computadores poderão ter uma opção de codificação, de modo a que vários mergulhadores possam utilizar o mesmo computador numa série de mergulhos. Se forem utilizados instrumentos desse tipo por vários mergulhadores, deverá haver uma testemunha independente que assegure que cada mergulhador inicia o seu mergulho com os dados certos na memória do instrumento.
  5. Durante uma série de mergulhos, um mergulhador não deverá mudar de computador ou mudar de um computador para tabelas. Uma transferência de sistemas deste tipo só será permitida após decorrido um tempo de dessaturação de pelo menos 24 horas (ou preferivelmente 36 horas).
  6. O planeamento é um pré-requisito de qualquer mergulho em que seja utilizado computador. É essencial que os mergulhadores e o chefe de mergulho concordem numa hora para a subida à superfície, a partir da qual serão desencadeados os mecanismos de emergência. Será também estabelecido um perfil de mergulho aproximado, a partir do qual serão calculadas as misturas respiratórias necessárias.
  7. Numa dupla de mergulho, cada um dos mergulhadores deverá possuir o seu computador e o planeamento deverá ser feito utilizando o modelo mais conservador.
  8. O mergulhador deverá manter-se sem mergulhar nas 18 horas que antecedem a primeira activação de um computador para seu uso e este deverá ter todos os registos anteriores removidos da memória.
  9. Quando apenas um computador de mergulho for utilizado numa dupla de mergulho, o mergulhador que não leva o computador deverá levar consigo um profundímetro, um relógio e um conjunto de tabelas de descompressão aprovadas pelo Centro de Mergulho Científico. Os mergulhadores deverão seguir os tempos de mergulho sem patamares de descompressão obrigatórios (PDO) mais conservadores (esta medida possibilita uma segurança no caso de uma falha do computador ou na eventualidade da dupla de mergulhadores se separar). Um mergulhador a solo, mesmo com computador de mergulho, deverá sempre levar consigo um conjunto de tabelas como reserva.
  10. Quando saírem da água, os mergulhadores e o supervisor deverão registar no logbook os tempos de não descompressão indicados pelo computador às profundidades de 10, 20, 30, e 40m (ou às profundidades mais próximas destas, no caso de computadores com unidades expressas no sistema imperial).
  11. Quando forem utilizados computadores de mergulho que registem a profundidade máxima, a duração e/ou o perfil de mergulho, os dados deverão ser retirados e registados no logbook. Tal acção permitirá ao supervisor decidir acerca de possíveis mergulhos sucessivos.
  12. Só poderá ser efectuado um mergulho com PDO, segundo um computador de mergulho, por cada período de 18 horas.
  13. Deverão ser utilizados, se possível, computadores com a capacidade de planear mergulhos. Esta característica permite ao mergulhador prever o tempo de subida ou as paragens, logo que o tempo de não descompressão seja excedido, e consequentemente permite gerir as suas necessidades de misturas respiratórias.
  14. Os mergulhadores devem interromper as suas actividades e iniciar a subida um pouco antes de ser atingido o limite de tempo sem PDO indicado pelo computador.
  15. É fortemente recomendado que os mergulhadores cientistas só utilizem computadores que registem o perfil de mergulho. Alguns computadores fazem-no a intervalos de 1 a 3 minutos, embora deva ser dada preferência aos computadores cuja resolução seja da ordem dos 10 segundos (ou inferior). Se o computador não dispuser desta característica, deverá considerar-se a utilização de um instrumento que registe o perfil de mergulho (como por exemplo alguns relógios mais avançados) ou então registar manualmente o perfil de mergulho a intervalos de 1 minuto. Este registo deverá ser efectuado em todos os mergulhos nos quais tenha sido excedido o limite de tempo sem PDO.
  16. As velocidades de subida devem ser lentas e não deverão exceder a velocidade recomendada pelo manual do computador ou pelas tabelas equivalentes.
  17. Quando o fabricante do computador aconselhar a realização de uma paragem de segurança (PS), esta deverá ser efectuada e registada.
  18. O supervisor de mergulho e o mergulhador deverão registar no logbook o tempo de dessaturação indicado pelo computador após a chegada à superfície.
  19. No caso de uma falha do computador, será possível determinar a hora a que mergulhador poderá mergulhar novamente. Nos casos de falha no computador, o mergulhador não deverá mergulhar até que esteja completada a dessaturação ou aguardar durante 24 a 36 horas, se a hora não tiver sido registada.
  20. Porque os mergulhos sucessivos com a utilização de computadores de mergulho podem resultar numa gaseificação constante dos tecidos, deverão ser observadas as seguintes regras:
    • Não deverão efectuar-se mais de 3 mergulhos por dia a profundidades superiores a 10m.
    • O intervalo de superfície mínimo entre mergulhos deverá ser de 1 hora (de preferência 2 horas).
    • Quando um mergulho exceder (ou seja provável que exceda) os limites de não descompressão, o IS deverá ser no mínimo de 2 horas.
    • Durante os mergulhos, as subidas e descidas múltiplas deverão ser reduzidas ao mínimo possível.
  21. Os mergulhadores que tiverem de realizar uma série de mergulhos num período de tempo longo, deverão efectuar uma pausa de um dia por cada semana de mergulhos, de modo a dessaturar os tecidos lentos. Se tiverem de ser efectuados vários mergulho fundos de um modo regular, os mergulhadores deverão considerar a possibilidade de restringir os seus mergulhos a uma profundidade máxima de 10 a 15m em cada 3 dias (se possível).
  22. Os perfis de mergulho com subidas e descidas múltiplas num curto intervalo de tempo (perfis tipo “yo-yo” ou “dentes de serra”), devem ser evitados.
  23. Se existir alguma dúvida acerca da segurança de um mergulho segundo o perfil recomendado pelo computador, ou acerca da experiência dos mergulhadores em usarem o computador correctamente, então o mergulho deverá ser efectuado seguindo as tabelas de descompressão autorizadas.
  24. Numa série de mergulhos sucessivos, deverá ser realizado primeiro o mergulho mais fundo, seguindo-se os mergulhos a profundidade inferior.