Marcações na Carta Náutica

DIREÇÃO
No mar a direção é medida no plano do horizonte, em relação ao Norte verdadeiro, no sentido do movimento dos ponteiros do relógio. O valor da direcção varia de 0º a 360º (representa-se sempre por três algarismos).
- Norte (N) – 0º ou 360º
- Leste (E) – 90º
- Sul (S) – 180º
- Oeste (W) – 270º
Interessa-nos referenciar duas direções que são importantes quer no mergulho quer na navegação: azimute e proa.
AZIMUTE (Z)
É o ângulo horizontal entre a direção Norte e a linha que une o observador a um ponto referenciado em terra ou no mar. O valor do azimute varia de 0º a 360º. Os azimutes são normalmente obtidos com o auxílio de um aparelho de marcar, um instrumento com uma mira associada a um prisma ótico, montado sobre uma agulha, através do qual se pode “mirar” um objeto e fazer a leitura da direção em que se encontra. Assim, um azimute obtém-se apontando para o objeto através da mira e lendo simultâneamente na rosa dos ventos da agulha o valor indicado pela linha de referência gravada no prisma. O azimute obtido é um Za.
Atualmente existem agulhas digitais cujo sistema eletrónico permite tirar azimutes sucessivos a uma série de pontos, registando-os numa memória que pode ser consultada mais tarde quando se faz a sua transposição para a carta. Também a utilização do radiogoniómetro (equipamento composto por um receptor e uma antena, com uma agulha incorporada, capaz de determinar a direção e o sentido em que um sinal de rádio é recebido) permite obter a leitura de um azimute relativo à posição onde se situa o posto emissor, que por sua vez está referenciado na carta.
PROA (P)
É o ângulo horizontal entre a direção Norte e a linha para onde aponta a proa de uma embarcação. O valor da proa varia de 0º a 360º.
RUMO (R)
É o ângulo horizontal entre a direção Norte e a direção em que navega a embarcação. O valor do rumo varia de 0º a 360º.
Como se sabe, temos a considerar o Norte verdadeiro, o Norte magnético e o Norte da agulha.
NORTE VERDADEIRO (Nv)
É coincidente com o Norte geográfico, onde um dos extremos do eixo da terra emerge na calote terrestre (Polo Norte).
NORTE MAGNÉTICO (Nm)
É coincidente com o Polo Norte do gigantesco campo magnético que envolve a Terra e não coincide com o Polo Norte verdadeiro.
NORTE DA AGULHA (Na)
É coincidente com a extremidade da agulha magnética que indica o Norte.
DECLINAÇÃO (D)
O ângulo entre o Norte magnético (Nm) e o Norte verdadeiro (Nv) denomina-se Declinação (D). Esta pode ser Leste ou Oeste, consoante o Nm fica para E ou W do Nv. O valor da Declinação magnética encontra-se referido nas cartas náuticas, bem como o valor da sua variação anual.


DESVIO (δ)
O ângulo entre o Norte da agulha (Na) e o Norte magnético (Nm) denomina-se Desvio (δ). Este pode ser Leste ou Oeste consoante o Na fica para E ou W do Nm.
O valor do Desvio encontra-se nas Tabelas de Desvio da agulha, que variam de agulha para agulha , de embarcação para embarcação e de proa para proa.
De acordo com os nortes de referência assim as direções são denominadas:
Proa verdadeira (Pv) Proa magnética (Pm) Proa da agulha (Pa)
Azimute verdadeiro (Zv) Azimute magnético (Zm) Azimute da agulha (Za)

Um observador vê a torre de uma igreja num Za = 140º.
Isto significa que o ângulo entre o Norte da agulha e a torre da igreja é 140º.

Um mergulhador marca na carta a direção de uma rocha, junto da qual fundeou, para um farol de Zv = 75º.
Isto significa que o ângulo entre o Norte verdadeiro e o farol é 75º.

Uma embarcação vai a navegar a uma Pa = 192º.
Isto significa que o ângulo entre o Norte da agulha e a linha proa-popa da embarcação é 192º.
No caso do mergulho, apenas interessa conhecer a declinação (D) no lugar, para fazer a marcação de pontos na carta a partir da leitura dos azimutes na bússola, ou para transportar para a bússola os azimutes lidos na carta, desprezando-se o valor do desvio da agulha.

NA CARTA SÓ SE LÊEM DIREÇÕES VERDADEIRAS. A BORDO DE UMA EMBARCAÇÃO OU EM TERRA SÓ SE TIRAM DIREÇÕES DA AGULHA.
Assim, para converter um valor verdadeiro para um valor da agulha:
- Se a declinação for Leste (E) subtrai-se do valor verdadeiro o valor da declinação.
- Se a declinação for Oeste (W) soma-se ao valor verdadeiro o valor da declinação.
Para converter um valor da agulha para um valor verdadeiro:
- Se a declinação for Leste (E) soma-se ao valor da agulha o valor da declinação.
- Se a declinação for Oeste (W) subtrai-se ao valor da agulha o valor da declinação.
No caso de não se conhecerem as coordenadas geográficas de um ponto ou de não termos à nossa disposição uma agulha (bússola), também podemos obter a localização de um ponto no mar se conseguirmos ter em terra pontos fixos e evidentes (pontos conspícuos) para o referenciar. Assim, podemos utilizar dois métodos expeditos o Enfiamento e o Alinhamento.
Como se sabe, para conhecermos a nossa localização exacta temos de conhecer pelo menos duas linhas de posição (LDP), no cruzamento das quais nós nos encontramos. No entanto, três linhas de posição é o número ideal para obtermos uma localização mais precisa.
ENFIAMENTO

Para se saber que estamos sobre uma LDP definida por um enfiamento, basta vermos dois pontos conspícuos conhecidos, alinhados um pelo outro. Nestas condições dizemos que os pontos estão enfiados ou que estamos no enfiamento desses pontos.
Como é obvio, se tivermos duas LDP obtidas por dois enfiamentos, no seu cruzamento estará a nossa localização. Se houver uma terceira linha, aumentam as probabilidades de obtermos maior precisão na nossa observação. A leitura será tanto mais precisa quanto maiores forem os ângulos formados entre si pelas LDP obtidas.
Se quisermos passar essas linhas de posição para a carta, basta traçar uma reta que una os pontos conspícuos referenciados na carta correspondentes a cada ponto do enfiamento. Na interceção das retas encontra-se o ponto da nossa localização.
O mais provável é que as três rectas traçadas na carta não se cruzem exatamente no mesmo ponto, mas formem um triângulo entre si. Nesse caso, podemos considerar que estamos posicionados no centro desse triângulo, posição essa que será tanto mais precisa quanto menor for o triângulo.
ALINHAMENTO

Se estivermos entre dois pontos conspícuos, e nos encontrarmos sobre a linha que os une, podemos dizer que nos encontramos sobre o alinhamento desses pontos. Esta linha é facilmente definida sobre a carta, mas é de difícil observação no terreno, porque o observador se encontra entre os dois pontos de referência. Para a leitura ser perfeita terá que se utilizar um instrumento especial, o Esquadro de Craveiro Lopes, que permite observar as duas marcas simultaneamente.
NOTA: Para além dos métodos dos azimutes, enfiamentos e alinhamentos, a localização de um ponto no mar também pode ser obtida com outros métodos, nomeadamente o das batimétricas, utilizando a sonda, ou o das distâncias, utilizando o radar e o sextante, todos eles servindo, em conjugação uns com os outros, para obter as LDP necessárias à definição do nosso posicionamento.
Na era dos satélites, a utilização do GPS (Global Position System), sistema de navegação por satélite criado em 1993, veio resolver duma maneira fácil e relativamente precisa o problema da localização dum ponto no mar ou em terra, para além de oferecer muitas outras aplicações que tornam mais fácil a vida dos “homens do mar”, entre os quais os mergulhadores se incluem. Para diminuir os erros introduzidos pelo sistema inicial foi criado o DGPS (Diferencial Global Position System) que usa estações receptoras em terra com posições bem conhecidas que, recebendo os sinais dos satélites, determinam o erro de posição do sistema, calculando a sua correção, que é depois enviada à navegação na zona vizinha que procede ao aferimento da posição calculada.