Lesões Provocadas pela Vida Marinha
PEIXES VENENOSOS
Existem múltiplos riscos associados com o contacto com os diversos animais marinhos que poderão ser encontrados durante o mergulho. A identificação do peixe ou outro ser marinho responsável, após um acidente nem sempre é fácil, mas isso não é de grande importância, já que o efeito dos venenos e a atitude a tomar é praticamente a mesma.
Os peixes venenosos raramente são agressivos, e o contacto é na maioria das vezes puramente acidental ou então devido ao manuseamento indevido dos mesmos.
NUNCA ESQUECER QUE MESMO DEPOIS DO PEIXE ESTAR MORTO CONTINUA A SER VENENOSO
Na maioria dos casos o veneno é muito sensível ao calor, sendo degradado pela água quente (ou qualquer outra fonte de calor).
SINAIS E SINTOMAS
Os sintomas iniciais são habitualmente a dor intensa seguido de “adormecimento” ou de “hipersensibilidade” na área à volta da ferida. Frequentemente, a intensidade da dor é desproporcional ao tamanho da ferida (dor muito intensa, com ferida muito pequena). A pele à volta da ferida poderá tornar-se azulada com inchaço (edema), com palidez dos tecidos circundantes. Entre os sintomas possíveis encontram-se:
- as náuseas,
- os vómitos,
- o estado de choque,
- a perda de consciência,
- entorpecimento progressivo,
- paralisia,
- convulsões
- diminuição do ritmo cardíaco,
- paragem cardíaca ou mesmo a morte.
MEDIDAS DE ATUAÇÃO
Os primeiros socorros e tratamento de um acidentado deste tipo resumem-se na seguinte atuação:
- Retirar o acidentado da água, deitá-lo numa superfície plana, tranquilizá-lo e vigiar.
- Ter particular atenção aos sinais de choque.
- Não demorar o início do tratamento.
- Lavar a ferida com água (água doce, salgada ou soro). A sucção da ferida na tentativa de remover o veneno não é eficaz pelo que não faz qualquer sentido tomar esta medida.
- Colocar a zona afetada dentro de um recipiente com água quente durante trinta a noventa minutos. A temperatura ideal da água é aquela que o acidentado tolera, mas nunca deve ultrapassar os 50ºC. No caso do acidentado não tolerar o contacto com água quente durante longos períodos de tempo, imersões curtas e repetidas é uma alternativa aceitável. No caso da ferida ser na cara, utilizar compressas ou panos quentes.
- Se a zona afetada é um dos membros mantê-lo abaixo do nível do coração.
- Transportar o acidentado para o hospital.
- Torniquetes e ligaduras não são aconselhados.
CASOS ESPECIAIS
PEIXES PEDRA, ESCORPIÃO E SIMILARES
As únicas diferenças em relação aos dados anteriormente referidos é que existem antitoxinas específicas para estes casos devendo as mesmas ser ministradas no Hospital (como é evidente é necessário informar o Pessoal de Saúde que a ferida foi provocada por um destes peixes). Nas nossas costas existe o Rascasso de pintas (Scorpaena porcus) cujo veneno é muito poderoso.
Estes peixes são altamente tóxicos, com sintomas muito semelhantes aos dos restantes peixes venenosos, mas muito mais frequentemente associados a sintomatologia mais grave, como paragem respiratória, estado de choque, colapso cardiovascular e mesmo a morte.
RAIAS
Na maioria dos casos o que sucede é uma pessoa pisar a raia e esta ter um movimento defensivo com a cauda daí resultando feridas extremamente dolorosas.
O aspeto típico da ferida é uma zona pálida e inchada com um halo circundante com uma tonalidade azulada. O principal problema nestes casos é que as infeções secundarias são muito frequentes. Podem surgir sintomas sistémicos tais como tonturas, sensação de desmaio, náuseas, vómitos, suores frios, dificuldade respiratória e estado de choque.
A prevenção, os primeiros socorros e o tratamento são idênticos aos descritos para a generalidade dos peixes.
HIDROZOÁRIOS
Na maioria dos casos o resultado do contacto com um destes seres é apenas uma irritação local da pele que pode ser muito dolorosa. Os casos de maior cuidado são as medusas como as Águas Vivas e a Caravela Portuguesa (phisalia phisalis) entre outras.
SINAIS E SINTOMAS
As toxinas podem provocar:
- reações alérgicas sistémicas graves das quais poderá resultar rapidamente o estado de choque ou mesmo a morte (já foram descritos casos mortais após o contacto com a Caravela Portuguesa.
Como é evidente a prevenção neste casos é muito importante e resume-se em evitar o contacto com estes seres.
MEDIDAS DE ATUAÇÃO
Procedimento
Em primeiro lugar, deve remover-se qualquer tentáculo sem esfregar ou fazer pressão, de preferência com uma toalha ou peça de roupa.
Para evitar a libertação de mais toxinas, deve-se lavar com soro fisiológico.
O ESFREGAR A FERIDA COM AREIA NÃO RESULTA EM ALÍVIO SINTOMÁTICO E PODE LEVAR Á LIBERTAÇÃO DE MAIS TOXINAS SE AINDA HOUVER RESTOS DE TENTÁCULOS PRESENTES
O tratamento local para o alívio da dor poderá incluir esteroides tópicos, pomadas anestésicas, pomadas antihistaminicas ou mesmo analgésicos ou antihistaminas por via sistémica
Existe o perigo do choque anafilático ( uma reação alérgica maciça que põe em risco a vida do acidentado), situação que pela sua gravidade justifica o envio imediato do acidentado para o Hospital.
Sendo muito difícil de prever a hipótese de ocorrer um choque anafilático é muito importante a vigilância do acidentado e ter presente que este quadro é mais frequente em pessoas que tenham história de alergias
CORAL
Devido à sua estrutura, o contacto com o coral pode resultar em feridas cortantes ou abrasivas importantes que levam muito tempo a cicatrizar, surgindo com alguma frequência infeções secundarias das mesmas.
As feridas resultantes do contacto com o coral devem ser desinfetadas, mantidas limpas e vigiadas – em alguns casos justifica-se a observação e tratamento por pessoal especializado.
A prevenção é evitar o contacto devendo de preferência usar-se roupa protetora.
MEDIDAS DE ATUAÇÃO
- Controlar a hemorragia
- Limpar e desinfetar a ferida
- Fazer um penso
- Administrar a vacina antitetanica
- Administrar antibióticos tópicos ou sistémicos caso se justifique.
TUBARÕES
Nas nossas águas não há notícias de ataques destes animais. Nos locais onde abundam, os seus ataques aos mergulhadores são raros – as estatísticas na Austrália revelam que os acidentes de mergulho são muito mais numerosos do que os ataques por tubarões.
Os ataques são na maior parte das vezes imprevisíveis e as lesões podem ser provocadas não só pela mordedura mas também pelo contacto, já que apele do tubarão é muito áspera, estando coberta com pequenos apêndices muito aguçados. Assim do contacto com o tubarão podem resultar abrasões importantes com a hemorragia significativa.
Os motivos pelo ataque de um tubarão são quase sempre desconhecidos ainda que sejam avançadas muitas teorias. O comportamento de um tubarão antes do ataque é previsível. O animal nada com movimentos amplos com as barbatanas peitorais dirigidas para baixo (o normal é dirigidas para os lados) e em círculos cada vez mais apertados em torno da presa, podendo ser precedido de uma aceleração súbita ou outra alteração comportamental. Nunca esquecer que um tubarão nada mais depressa do que qualquer nadador.
Há uma série de regras a respeitar para prevenir os ataques destes animais, das quais a mais óbvia é evitar mergulhar nos locais onde eles encontram.
Enumeram-se entre outras as seguintes:
- evitar nadar ou mergulharem zonas com águas muito turvas onde haja despejo de lixo ou restos de animais
- não fazer mergulhos à noite em locais onde há tubarões
- nunca esquecer que explosões, luzes, objetos brilhantes ou coloridos, barulho do agitar da água à superfície atraem os tubarões
- atendendo ao facto de que os tubarões são atraídos pelo cheiro do sangue é de evitar mergulhar com feridas abertas. Não existem quaisquer provas que uma mulher durante o seu período menstrual corra risco acima do normal, mas é aconselhável que durante este período utilize tampões.
- evitar deixar os braços ou as pernas “dependuradas” na água.
- é preferível a utilização de roupa pouco colorida ao mergulhar em águas onde a presença de tubarões é conhecida, um dos elementos do par deverá estar sempre atento, procurando a presença dos mesmos.
- na presença de um tubarão não deverão efetuar-se movimentos bruscos. A melhor opção é permanecer parado ou se possível encostar-se a uma parede rochosa.
- no caso de um ataque deve-se tentar afastar o tubarão de qualquer maneira, de preferência batendo-lhe nos olhos, guelras ou, se possível, na região ventral. Tentativas de bater no “nariz” não são aconselháveis, já que quando o tubarão morde a cabeça está levantada e a boca dirigida para a frente, pelo que, se não acertar em cheio no nariz, o mais provável é enfiar o braço na boca do animal.
MEDIDAS DE ATUAÇÃO
- Parar a hemorragia
- Fazer um penso
- Controlar o estado de choque
- Aplicar o Suporte Básico de Vida (SBV) se necessário
- Se houver pessoal qualificado e material, canalizar um ou mais vias e administrar soros
- Transportar a vítima para uma Unidade Hospitalar. Nunca esquecer que antes do transferir uma vítima é de primordial importância estabilizar e corrigir tudo aquilo que for possível, de maneira a garantir que o transporte se possa processar rapidamente e com o mínimo de complicações (p. ex., perder o tempo necessário para parar uma hemorragia é preferível do que mandar o acidentado traumatizado numa ambulância durante um período de tempo indeterminado ainda a sangrar)
O resultado do ataque de um tubarão é normalmente desastroso necessitando de tratamento hospitalar urgente