Exaustão
Trata-se de um incidente relativamente frequente, que pode suceder à superfície ou durante a imersão, podendo agravar-se e evoluir para um acidente grave com consequências mortais. O conhecimento do seu mecanismo e forma de apresentação permite evitar que isso aconteça.
A nossa ventilação é controlada de diversas formas, mas é importante retermos a ideia de que as variações de ritmo e amplitude da ventilação dependem da quantidade de dióxido de carbono (CO2) dissolvido no sangue.

FADIGA MUSCULAR
No desempenho das suas funções, os músculos e outros tecidos do corpo consomem oxigénio e nutrientes, produzindo calor, dejetos orgânicos e CO2, que o organismo humano tem obrigatoriamente que eliminar. Este mecanismo verifica-se também nos músculos da respiração. Assim, quanto mais estimulados são por uma quantidade elevada de CO2 no sangue, mais CO2 eles próprios produzem, em resultado de um trabalho muscular aumentado. Trata-se de um processo vicioso e cíclico, que se vai agravando.
O mecanismo acima descrito agrava-se com o aumento da pressão ambiente. À medida que a pressão aumenta, aumenta a quantidade de CO2 no sangue e, consequentemente, intensifica-se o estímulo de funcionamento dos músculos respiratórios. Por isso, torna-se gradualmente mais difícil a expiração, até acabar por se atingir a sensação de sufocação.
Com o agravamento das condições de mergulho (frio, dificuldade em flutuar, lutar contra a corrente,…), maior é a angústia do mergulhador, o que contribui fortemente para um aumento do ritmo respiratório, conduzindo-o rapidamente a uma sensação de sufocação. Isto irá originar procedimentos que o poderão conduzir ao afogamento (por exemplo, à superfície, arrancar o regulador da boca; durante o mergulho, tentar atingir desesperadamente a superfície com movimentos descontrolados).

O QUE FAZER
Um mergulhador que se aperceba de um aumento do seu ritmo respiratório deve parar, deixando de realizar qualquer esforço físico, e deve forçar a expiração, até recuperar um ritmo respiratório normal. Esta manobra nem sempre é bem sucedida, sobretudo se o mergulhador é inexperiente. Por vezes, o ponto em que é possível recuperar o ritmo respiratório (ponto de retorno) já foi ultrapassado e o acidente acontece mesmo. Ninguém tem a capacidade para se aperceber se o ponto de retorno já foi ultrapassado ou não.
Numa situação deste tipo, o comportamento a adotar é aproximar-se do companheiro e sinalizar a dificuldade. O companheiro deve então preparar-se para agir e acompanhá-lo, ou transportá-lo para a superfície e rebocá-lo para a embarcação, segundo os procedimentos que são aprendidos e treinados no curso de especialização de “Salvamento”. Os procedimentos a adotar na embarcação são aprendidos nos cursos de especialização de “Mergulhador Socorrista” e de “Administração de Oxigénio”.
COMO PREVENIR
São vários os fatores que contribuem para o aumento do ritmo respiratório, conduzindo-o rapidamente a uma sensação de sufocação e de exaustão: o esforço físico, o frio, a angústia e a deficiente técnica pessoal.
- ESFORÇO FÍSICO
- Não mergulhar se houver uma corrente muito forte (velocidade >1,5 nós), a não ser que o barco vá seguindo as bolhas para o recolher no final do mergulho.
- No fundo, manter um perfeito equilíbrio hidrostático.
- Deixar ir os companheiros apressados, os grandes “barbatanadores”, os reis da distância!
- O FRIO
- Usar um fato isotérmico justo mas não apertado.
- Usar luvas e botas isotérmicas.
- Comer (tolerância zero para os regimes de salada/biscoitos e dietas caseiras).
- A ANGÚSTIA
- É difícil prescrever uma receita milagrosa. A adaptação ao meio ambiente, a repetição de mergulhos nas condições mais diversas e o treino físico contribuirão para otimizar a experiência e minimizar as respostas de stress durante a imersão.
- A TÉCNICA INDIVIDUAL
- É a avaliação do risco, a experiência de estar alerta para as situações que desencadeiam o stress e a observação dos companheiros, que permitem ao mergulhador diagnosticar uma situação que possa evoluir para a exaustão.
Durante o mergulho, deve-se forçar a expiração (que passa a ser também uma fase ativa, ao contrário do que acontece à superfície) e deve tentar aumentar voluntariamente a amplitude da respiração, antes do ritmo respiratório aumentar excessivamente.
Deve sempre utilizar o sinal de “estou exausto”. Não há que ter vergonha de terminar um mergulho antes deste acidente se instalar de forma grave e irreversível. Isso é sinal de falta de experiência.
As técnicas de salvamento são essenciais para o sucesso no socorro de um mergulhador vitima de exaustão, pelo que é aconselhável a frequência do curso de especialização em Salvamento.