Efeitos Fisiológicos do Frio
Quando nos referimos aos efeitos fisiológicos do frio, é necessário entendermos a definição de hipotermia. Consideramos o estado de hipotermia quando a temperatura corporal central é inferior a 35°C.
A temperatura dos oceanos varia entre –2 e os 30°C, sendo, em média, inferior a 10°C durante todo ano. Se o mergulhador se expõe a condições em que a perda de calor corporal é maior que a produção de calor, a temperatura corporal baixa e o mergulhador começa a ficar hipotérmico.
Os mergulhadores necessitam de um fato isotérmico para manter o equilíbrio entre a perda e a produção de calor, exceto quando o mergulho é em águas quentes tropicais. Em climas moderados, como o nosso, um fato húmido é suficiente para o verão, mas em águas frias, como as do Norte da Europa ou durante o período de inverno, é imprescindível o recurso a um fato seco.
O arrefecimento ocorre porque a água é um bom condutor de calor e possui uma capacidade calorífica alta:
- A água conduz o calor 25 vezes mais rapidamente que o ar.
- A quantidade de calor necessário para aumentar a temperatura da água é cerca de 1000 vezes maior do que o necessário para produzir o mesmo aumento de temperatura em igual quantidade de ar.

IMERSÃO SÚBITA EM ÁGUA FRIA
Uma diminuição súbita da temperatura da pele, como a resultante da entrada súbita do mergulhador em água fria, ou da entrada de água no interior de um fato isotérmico, provoca alterações fisiológicas profundas.
Há um aumento imediato da frequência cardíaca e da tensão arterial e um período de dificuldade ou mesmo incapacidade de respirar. Mesmo nadadores experientes podem ser incapazes de coordenar a respiração com os movimentos natatórios, acabando por inalar água.
O aumento rápido de pulso e a hipertensão podem provocar uma falência da circulação em indivíduos fisicamente mal preparados. Após esta reação inicial ao choque térmico, as respostas orgânicas normalizam e a hipotermia começa a instalar-se.
HIPOTERMIA PROGRESSIVA
O mergulhador que não esteja convenientemente protegido para a temperatura da água em que está submerso vai sendo vítima de uma hipotermia progressiva.
Numa primeira fase, se o mergulhador abandonar a água, ou for retirado com uma temperatura central entre os 33ºC e 35°C (hipotermia leve), encontra-se consciente e a respirar espontaneamente. Apresenta algumas alterações, como o “shivering” (tremor muscular generalizado), sensação de frio nas extremidades que evolui para perda da sensibilidade e aumento da diurese, que pode levar à desidratação. A dificuldade em desempenhar pequenas tarefas associa-se a uma lentidão do raciocínio e das reações, que podem motivar situações de perigo, pois o mergulhador não consegue manusear eficazmente o seu equipamento.
Se o mergulhador for retirado da água numa fase mais avançada de hipotermia, com uma temperatura central entre os 30ºC e 33°C (hipotermia moderada), apresenta dificuldade em responder a estímulos ou está mesmo inconsciente. O “shivering” persiste até ao limite, em que é substituído pela rigidez muscular. A frequência e o débito cardíaco diminuem, a frequência respiratória diminui e consequentemente os tecidos corporais recebem menos oxigénio. A maioria das vítimas marítimas de hipotermia morre nesta fase, porque têm dificuldade em nadar ou manter a cabeça fora de água.
Se o mergulhador é retirado em hipotermia severa, com uma temperatura central inferior a 30°C, apresenta-se inconsciente ou “semiconsciente” e o “shivering” é substituído pela rigidez muscular. A respiração e o pulso podem não ser detetáveis, e abaixo dos 30°C o risco de paragem cardíaca é alto.

MOTIVOS QUE PODEM LEVAR UM MERGULHADOR A FICAR HIPOTÉRMICO
- A ESCOLHA DE UM FATO ISOTÉRMICO INADEQUADO
- UM FATO SECO PERMEÁVEL
- LONGOS PERÍODOS DE INATIVIDADE
- EXPOSIÇÃO AO VENTO FRIO DEPOIS DO MERGULHO