Lesson 1, Topic 1
In Progress

Computadores

Falámos até aqui nas tabelas de mergulho, referindo-nos aos parâmetros a que obedecem, às situações extraordinárias que podem alterar os fatores de segurança e à nomenclatura específica com elas relacionadas. Também dissemos que o algoritmo utilizado no cálculo das tabelas de Büehlmann é igualmente utilizado no sistema de cálculo de diversos modelos de computador de mergulho.

Ainda que o algoritmo utilizado pelos computadores e pelas tabelas seja o mesmo, verifica-se que, para a mesma profundidade, tanto o tempo máximo de mergulho sem paragens de descompressão como o tempo das paragens de descompressão (quando existem) indicadados nos computadores, não são exatamente idênticos aos indicados pela tabela. Isto acontece porque, por uma questão de segurança, o valor de um dos coeficientes utilizados para calcular a tensão máxima de azoto dissolvido suportada por cada tecido sem se formarem bolhas gasosas, é diferente no computador e na tabela.

No T5 – Tabelas e Computadores de mergulho, do curso de CMAS Two Star Diver, referimo-nos a um conjunto de novas características apresentadas por estes equipamentos. Iremos agora abordar os aspetos do funcionamento dos computadores para respondermos à pergunta: Qual será a tabela ou qual o sistema que maior segurança oferece?

As tabelas são essencialmente adaptadas aos cálculos de mergulhos com perfil retangular, em que todo o tempo de mergulho é passado à profundidade máxima atingida, e são especialmente bem adaptadas para os mergulhos sucessivos, em que os tecidos lentos são um factor determinante.

Em contrapartida, a utilização destas tabelas não está optimizada para os mergulhos em “escada”, conduzindo a uma descompressão muito longa.

Se, por um lado, esta situação é um acréscimo de segurança, por outro lado rouba ao mergulhador alguns minutos de mergulho. Para se obter uma descompressão de acordo com as variações de pressão de um mergulho em “escada”, a solução ideal seria dividir esse mergulho em “fatias” ou “secções”, considerando-as como pequenos mergulhos que se sucedem, e calcular a descompressão para cada uma. Quanto mais finas forem as “fatias” ou “secções” mais real será o calculo da dissolução e da descompressão.

O computador divide o mergulho em secções

Um computador de mergulho que utilize o modelo matemático Büehlmann, calcula durante o mergulho a tensão de azoto teórica de cada um dos compartimentos do modelo, isto é, de cada um dos tecidos que o constitui. Ao mesmo tempo, faz uma amostragem da profundidade (pressão ambiente) a cada 2 ou 3 segundos. Seguidamente basta-lhe comparar essas tensões com os valores estabelecidos pelos critérios de subida, para calcular os valores da descompressão.

DE FORMA SIMPLISTA, PODEREMOS DIZER QUE AS TABELAS TÊM VALORES FIXOS E OS COMPUTADORES ESTÃO CONSTANTEMENTE A ATUALIZÁ-LOS

Uma memória fixa (read only memory) contém os parâmetros de cada um dos compartimentos (tecidos) utilizados, isto é, o seu período e o critério de subida que lhe está associado (tensão máxima de azoto suportada). A memória contém também as expressões matemáticas (programas) que permitem fazer diversos cálculos, como determinar a tensão de azoto em cada um dos tecidos ao fim de um determinado tempo à profundidade considerada. É também em função destes dois parâmetros que calcula o tempo que resta para terminar o mergulho sem fazer paragens de descompressão, ou o tempo das paragens de descompressão e a cota dos respetivos patamares, caso sejam necessários.

A memória viva (read access memory) trabalha com o microprocessador e em tempo real as informações recebidas, como a profundidade (pressão) e o tempo. Em alguns casos considera também a temperatura da água, o consumo de ar pelo mergulhador, a pressão do ar na garrafa, etc. O microprocessador trata os dados recebidos utilizando os dados contidos na memória fixa, e envia os resultados para um painel (mostrador).

Regressado à superfície e tendo em memória o valor de azoto residual característico de cada tecido, o computador continua a fazer a amostragem da pressão ambiente, agora em intervalos de 10 segundos. Ao mesmo tempo, calcula os valores da tensão de azoto nos vários compartimentos (tecidos), indicando o tempo que falta até atingir o seu valor normal à pressão atmosférica no local.

Faz também um cálculo idêntico para determinar o tempo que o mergulhador tem de esperar até poder viajar de avião. Alcançado o valor normal da tensão de azoto em todos os tecidos à pressão atmosférica no local, o computador desliga-se e mantém-se “adormecido”, voltando a ligar-se para medir a pressão ambiente e repetir este procedimento em ciclos de trinta minutos.

Ao fazer um novo mergulho antes da reposição dos valores normais de tensão de azoto (mergulho sucessivo), o computador vai ler nos registos da memória qual a quantidade de azoto que ainda está dissolvida nos vários tecidos e entra com esses valores nos cálculos que irá fazer no decorrer do novo mergulho, transformando-os em tempo de penalização. Este procedimento corresponde à utilização dos valores do grupo residual de azoto (GR), intervalo de superfície (IS), e tempo de penalização (TP) da Tabela de Mergulhos Sucessivos.

Procedimento análogo é o que se verifica ao mergulhar em locais onde a pressão atmosférica é inferior à do nível do mar. Neste caso, o computador irá ler os valores da tensão de azoto nos vários tecidos, relacionando-os com a nova pressão atmosférica, e entrar com esses valores nos cálculos que irá fazer no decurso do novo mergulho, tal como se de um mergulho sucessivo se tratasse.

A maior parte dos computadores já mostram as infracções cometidas durante o mergulho, como por exemplo, se a velocidade de subida ou o processo de descompressão não foram respeitados. Os computadores da chamada “nova geração” já consideram nos seus cálculos as infrações cometidas e a formação de bolhas que daí possam resultar, propondo processos para remediar estas situações.

Porque o computador (ou o modelo matemático contido na sua memória) não está em contacto com os tecidos do organismo, nenhum processo de descompressão é 100% seguro, uma vez que se baseia apenas em expressões e cálculos matemáticos

A última geração de computadores de mergulho, entre outros dispositivos de análise, possuem sensores de pressão do ar e de temperatura que permitem aumentar a precisão do processo de descompressão, em caso de fadiga extrema (respiração ofegante) ou de diminuição de temperatura, dando igualmente informação quando existem subidas muito rápidas ou interrupção de patamares de descompressão.

Quanto aos seus limites de utilização refiram-se, entre outros:

  • O limite de profundidade recomendado para o mergulho recreativo.
  • O número limite de mergulhos diários.
  • O período de repouso (sem mergulhar) recomendado depois de vários dias de mergulho seguidos.
  • Os fatores que favorecem o acidente de descompressão.

Lembramos que se pode passar do uso das tabelas para o uso do computador ou o inverso, desde que:

  • Seja respeitado o tempo de dessaturação de 24 horas para passar da tabela para o computador.
  • Seja nulo o tempo total de dessaturação indicado pelo computador para passar do computador para a tabela.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos aspectos poderão ser ainda aprofundados sobre as tabelas e os computadores de mergulho, no entanto, como mergulhador CMAS Three Star Diver deverá apresentar uma análise crítica de cada imersão e uso consciente para o uso de todos os equipamentos auxiliares ao mergulho. Deixamos as seguintes considerações finais sobre os equipamentos:

  • Nenhum é 100% seguro
  • Nenhum deles está preparado para interpretar os estados físicos, fisiológicos ou emocionais do ser humano.
  • Nenhum deles deverá ser utilizado sem o mínimo de conhecimentos adquiridos através de uma aprendizagem específica e sem a aceitação da parte do seu utilizador de todas as advertências deixadas para trás.
  • Nenhum deles pode substituir a experiência acumulada ao longo de anos de mergulho e sobretudo nenhum substitui um bom companheiro de mergulho.

A utilização do computador de mergulho não dispensa o conhecimento profundo da utilização das tabelas. Nessas condições, ele será um excelente “assistente” do mergulhador