Computadores de Mergulho
No Módulo 13 do curso de mergulho CMAS One Star Diver, foi referido que o computador de mergulho é um equipamento que permite ao mergulhador fazer, a qualquer momento, o ponto da situação relativamente à evolução do mergulho, ao contrário das tabelas, cujos valores são fixos. Enumerámos também um certo número de dados fornecidos, entre os quais destacámos a profundidade máxima atingida, a profundidade instantânea, o tempo de mergulho decorrido, o tempo de mergulho disponível sem paragens de descompressão, etc. Neste capítulo, vamos aprofundar um pouco mais as características destes equipamentos.

OS MODELOS MATEMÁTICOS
Os modelos matemáticos usados nos computadores de mergulho são designados por algoritmos, todos eles baseados nos modelos de Haldane e Workman. Entre os algoritmos mais utilizados, podemos enumerar os Bühlmann ZHL8 e ZHL16 (com 8 e 16 tipos de tecidos, respetivamente), os Spencer (com 8, 9 e 11 tipos de tecidos), os Spencer Roger & Powell (com 12 tipos de tecidos), e o Comex Beuxat (com 20 tipos de tecidos).
O período dos tecidos considerado varia entre os 5min e os 635min no modelo Bühlmann, e entre os 2,5min e os 480min nos modelos Spencer, Spencer Rogers & Powell e Comex Beuxat.
A VELOCIDADE DE SUBIDA
As velocidades de subida variam entre os 6,5 e os 18metros por minuto. Existem modelos de alguns fabricantes que apresentam velocidades de subida diferentes em função da profundidade a que o mergulhador se encontra, mas que também se situam dentro dos valores referidos.
O TIPO DE MISTURAS
Há computadores que se limitam apenas a monitorizar o ar atmosférico, outros que consideram misturas enriquecidas até 50% de oxigénio e outros ainda misturas até 99% de oxigénio. Existem também computadores para mergulho técnico que permitem o uso de várias misturas diferentes.
Atualmente, para atender a determinadas variáveis do mergulho, nomeadamente velocidades de subida superiores às tabeladas, esforços grandes e água muito fria, alguns fabricantes introduziram fatores de correção para compensar estas variáveis.
Outras inovações apresentadas, não menos úteis do que as atrás referidas, são a previsão do ar disponível na garrafa necessário em mergulhos profundos e a monitorização da toxicidade do oxigénio no sistema nervoso central em mergulhos com Nitrox.
TEMPO DE FUNDO DISPONÍVEL
Particularmente nos mergulhos profundos, é da maior utilidade que o mergulhador saiba, a todo o instante e à profundidade a que se encontra, de quanto tempo dispõe até ao início da subida, de modo a ter o ar necessário para fazer a subida e cumprir as paragens de descompressão, se tais forem necessárias. Este tempo de fundo disponível ou RBT (Remaining Bottom Time), é calculado em função do consumo médio de ar do mergulhador, da temperatura e da pressão da mistura respiratória na garrafa a cada instante.
Baseado nestes parâmetros, o computador atualiza todos os 4 segundos o RBT, dando assim ao mergulhador valores com a maior precisão. Se o mergulhador estiver a fazer um exercício violento, o RBT diminui e, pelo contrário, se o mergulho for relaxante, o RBT aumenta. Ao iniciar a subida, o computador passará a fornecer a previsão do ar disponível para efetuar a subida e cumprir as paragens de descompressão, se necessárias.

Existe também a possibilidade do mergulhador penalizar os valores do RBT numa escala de valores e de incrementos predefinidos, fixando previamente o valor pretendido para a pressão de reserva, o que se traduz de um fator de segurança acrescido. Para o valor mais baixo, o mergulhador faz a sua subida, respeitando a velocidade recomendada e as paragens de descompressão, se necessárias, chegando à superfície com a quase totalidade da reserva de ar na garrafa.
A precisão destes cálculos deve-se à existência de um sensor de pressão que mede a frequência e a quantidade do ar respirado, traduzidas sob a forma de variações de pressão. Este valor vai-se tornando mais preciso, pois o computador tem também em conta a temperatura ambiente, que, como sabemos, influencia o ritmo respiratório. Este fator tem importância acrescida quando o mergulhador evolui em uma zona de transição entre água fria e água quente (termoclina).
O CONTROLO DO ESFORÇO
Como referido anteriormente, exercícios violentos, tais como natação contra a corrente, remoção duma ancora que se encravou, etc., aumentam o ritmo respiratório e a quantidade de ar respirado, o que se traduz em uma maior dissolução de azoto nos tecidos musculares. Por sua vez, este acréscimo anormal de azoto expõe o mergulhador a um risco maior de formação de microbolhas e, obviamente, à possibilidade acrescida de um acidente de descompressão.
Para minimizar esta situação, alguns computadores analisam a carga de esforço efetuada pelo mergulhador, em função da alteração do seu ritmo respiratório, avisando-o de que deve adotar uma atividade menos cansativa, de forma a regularizar a respiração e, caso ele não faça essa correção, penaliza-o em tempo ou com paragens de descompressão adicionais ou mais restritivas.
Simultaneamente, por alteração exterior do software, o mergulhador pode introduzir um fator de correção em função da sua forma física, que irá desta forma complementar a análise feita durante o mergulho.
O CONTROLO DA TEMPERATURA
O fator temperatura é também contemplado nesta nova geração de computadores. Como se sabe, as baixas temperaturas provocam uma vasoconstrição que provoca a redução da corrente sanguínea nos tecidos superficiais, de modo a conservar a temperatura interior do corpo de um nível aceitável. Nestas condições a pele é o tecido mais afetado.
Por outro lado, a vasoconstrição não se verifica logo no início do mergulho, mas sim já perto do seu fim, o que vai permitir que o azoto se dissolva normalmente durante o mergulho, tornando difícil a sua libertação no regresso à superfície.
Esta dificuldade na libertação do azoto vai retardar o processo de eliminação e tornar o mergulhador mais vulnerável ao aparecimento de microbolhas nos tecidos da pele, provocando comichão e edemas, características do acidente de descompressão benigno. Para evitar esta situação, o computador está permanentemente a analisar a temperatura do ambiente e a considerar o seu valor nos cálculos da descompressão.
Normalmente, a medula espinal é o primeiro tecido a ser afetado no processo da descompressão. Contudo, quando o mergulho é feito em águas muito frias, o computador dá prioridade ao tecido da pele, propondo uma paragem de descompressão em mergulhos que normalmente não a exigiriam ou aumentando a duração das paragens de descompressão em mergulhos cujo perfil as exigiriam.
A REDUÇÃO DE MICROBOLHAS
Como já foi referido, os mergulhadores afetados pelas microbolhas põem em perigo os tecidos nobres do organismo, tais como o da medula espinal, do cérebro e da retina. Estão incluídos neste risco os Monitores e os Guias de Mergulho dadas as características das suas funções, que os obrigam muitas das vezes a fazer mergulhos sucessivos, e também os mergulhadores que querem a todo o custo rentabilizar o investimento feito nos “pacotes de mergulho” durante as férias em locais de eleição.
As microbolhas não produzem sintomas e sinais visíveis (dizem-se assintomáticas), podendo apenas serem detetadas com um equipamento cujo funcionamento se baseia no efeito Doppler. Este equipamento gera ultrassons que são refletidos pelas microbolhas, produzindo uma crepitação tanto mais intensa e frequente quanto maior for o número de bolhas detetadas na circulação.
Entre 1995 e 1999, a Divers Alert Network (DAN) fez um estudo no qual foram intervenientes mergulhadores de todas as idades e qualificações. Estes realizaram 2105 mergulhos nas mais diversas situações de duração e profundidade. No final de cada mergulho, os mergulhadores realizaram um teste de Doppler para deteção de eventuais microbolhas, classificadas em dois graus, “grau baixo” e “grau alto”, dependendo da intensidade e frequência com que eram detetadas.

RESULTADOS DO ESTUDO
Em 37,4% dos mergulhos foram detetadas microbolhas:
- 68% apresentavam bolhas de “grau baixo”
- 32% bolhas de ”grau alto”.
No caso dos mergulhos sucessivos, 67% apresentavam microbolhas de “grau alto”.
Este estudo veio comprovar o que a DAN tem vindo a constatar desde os anos 80, ou seja, a existência duma elevada percentagem de acidentes de descompressão após a realização repetida de mergulhos sucessivos. Estes casos estão normalmente relacionados com mergulhadores que, como atrás referimos, para rentabilizar os “pacotes de mergulho”, fazem o maior número possível de mergulhos durante um curto período de tempo, chegando a fazer três ou mais mergulhos diários.
Esta situação torna-se por vezes catastrófica com a viagem de regresso, normalmente feita por avião, que acarreta o perigo duma descompressão descontrolada, devido à diminuição brusca da pressão ambiente.
Por outro lado, verificou-se que se obtém uma redução substancial nas microbolhas existentes (cerca de 60%) ao fazer paragens de descompressão em patamares mais profundos em cada mergulho sucessivo, chegando em alguns casos a conseguir-se a sua total eliminação.
É neste sentido que alguns computadores da nova geração estão programados, para que o mergulhador possa introduzir uma penalização no tempo de descompressão, de acordo com as características do mergulho que vai ser efetuado, estabelecendo desta forma novas paragens de descompressão a profundidades maiores e aumentando a duração das restantes. Estas cotas têm uma tolerância de cerca de 1,5m para cima e para baixo. Se essa tolerância for ultrapassada, reflete-se na duração das paragens subsequentes, que vêm o seu tempo duração de aumentado.
O MERGULHO COM NITROX
A utilização de misturas gasosas enriquecidas em oxigénio, ou EAN (Enriched Air Nitrox), mais vulgarmente conhecidas por nitrox, dão uma segurança acrescida ao mergulhador, devido à diminuição da percentagem do azoto nessa mistura, o que faz diminuir o risco dum acidente de descompressão. Contudo, devido à maior percentagem de oxigénio, o nitrox apresenta diferentes fatores de risco para o seu utilizador.
O oxigénio é uma molécula ativa que facilmente provoca a intoxicação do sistema nervoso central (SNC). A agressão a estes tecidos é imediata, pode não dar sinais de aviso e pode ser mortal.
Para tentar evitar estas situações, alguns computadores estão concebidos para monitorizar e alertar para os limites do oxigénio, em função da sua pressão parcial na mistura. Os resultados são mostrados continuamente e, sempre que forem atingidos 75% do limite da toxidade do SNC, são dados sinais de alarme visual e sonoro, devendo o mergulhador iniciar a subida imediatamente. O computador também avisa quando é atingida a pressão parcial de oxigénio previamente introduzida (máxima 1,6 bar).
Para que este sistema de alarme funcione, o mergulhador deve programar o computador para a mistura que vai utilizar, desde 21% de oxigénio (mistura do ar atmosférico) até aos 100% de oxigénio (oxigénio puro), podendo, em alguns modelos, fazer uma simulação do mergulho que vai efetuar.