Como Reconhecer uma Situação de Emergência
1. VÍTIMA CONSCIENTE
Vamos falar agora sobre os procedimentos e técnicas necessárias para prestar assistência a um mergulhador em dificuldade, começando por abordar a situação em que ele se encontra consciente, explicando como devem ser executados esses procedimentos, de maneira que o aluno fique com uma ideia geral da forma como agir durante os exercícios práticos, em meio natural, que completarão a sua formação de “RD”.
A maior parte dos problemas que acontecem ao mergulhador verificam-se à superfície ou muito perto desta, e é nesse sentido que se descrevem vários procedimentos a tomar perante a uma vítima, consciente, desde a simples assistência a uma situação de exaustão (fadiga) até ao socorro a prestar em caso de pânico declarado.
É importante frisar que cada situação de emergência é um caso específico que tem de ser avaliado pelo “RD” antes da sua intervenção e que não há um só método para o resolver verificando-se na maioria das vezes a necessidade da utilização de vários em simultaneidade pois cada vítima e cada situação tem a sua particularidade.
Não podendo pois existir regras rígidas tem que se deixar ao “RD” a criatividade de adaptar as regras existentes a cada uns dos casos reais que se lhe apresentam provavelmente nada tendo em comum com os cenários que lhe são apresentados durante a formação.
Parece-nos pois mais importante ensinar como avaliar, refletir e agir em função das suas capacidades e das circunstâncias presentes no momento.
2. COMO RECONHECER UMA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA
A função prioritária de um “RD” é reconhecer as situações que podem contribuir para que se verifique um acidente tomando as precauções necessárias para evitar que tenha de proceder a um salvamento.
No entanto, tomadas essas precauções, nada nos garante que não possa acontecer que um mergulhador necessite de ser socorrido.
A segunda preocupação de um “RD” consiste em reconhecer num mergulhador sinais que indiquem que está em dificuldade para lhe dar assistência imediata antes que a situação se transforme em acidente.
Na realidade, se conseguirmos ajudar um mergulhador a resolver o seu problema, permite transmitir-lhe uma sensação de segurança imediata que evitará consequências menos agradáveis.
Conseguir identificar os primeiros sinais duma situação de emergência prestando rapidamente a assistência adequada é muito mais importante que prestar socorro depois do acidente se ter verificado, pois na maior parte das vezes um mergulhador numa situação de emergência não reage racionalmente, não sinalizando, como está previsto (bater na água com o braço esticado, apitar ou gritar por socorro), essa situação.
ESSES PRIMEIROS SINAIS, DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA, SÃO NORMALMENTE BASTANTE MAIS DISCRETOS E APENAS PERCETÍVEIS AOS OLHOS DE UM “RD” TREINADO.
3. SINAIS DE EMERGÊNCIA À SUPERFÍCIE
A maioria das situações de emergência no mergulho acontecem à superfície ou já na sua proximidade, sendo geralmente originados por cansaço ou perda de consciência.
Se um mergulhador for encontrado à superfície, completamente imóvel, virado de barriga para baixo sem qualquer tipo de reação, o mais certo será que ele está com graves problemas.
No entanto, um mergulhador que não responde aos sinais que lhe são feitos, também pode estar em apuros e necessitar de ajuda.
Os mergulhadores, que arrastados por uma corrente forte, emergem longe da embarcação necessitam duma atenção constante sendo conveniente que haja uma troca frequente de sinais para nos assegurarmos que a situação está controlada, da mesma forma que um mergulhador que transporta uma carga pesada deve ser vigiado devendo preparar-se uma ajuda imediata se tal vier a ser necessário, para evitar situações de exaustão.
Um “RD” experiente deve estar alertado para qualquer sinal (engasgo, fadiga, vómitos, etc.) que denuncie uma situação anormal para o mergulhador.
Um sinal característico de um grau de angústia elevado é ver um mergulhador à superfície tentar elevar-se da água como se pretendesse dela sair. Tipicamente tira a máscara, nada com as mãos, com a cabeça fora de água, e movimentos descontrolados das pernas.
Outro sinal não menos característico, o de dar às barbatanas freneticamente movimentando simultaneamente os braços (esbracejando), requer um socorro imediato.
Arrancar a máscara, tirar o regulador da boca, isto acompanhado por uma respiração ofegante e descontrolada, com a cabeça deitada para trás e o queixo levantado para cima é uma situação frequente que requer a intervenção imediata do “RD”.
Debaixo de água, perto da superfície, notar-se-á uma mudança no ritmo de dar às barbatanas do mergulhador.
Enquanto o movimento normal é feito pela ação das coxas, traduzindo-se num movimento amplo das pernas, numa situação de emergência este movimento desaparece dando origem a um pedalar onde toda a articulação é feita a partir dos joelhos, perdendo assim todo o efeito de propulsão que o primeiro origina.
Um mergulhador debaixo de água que esteja perto do pânico estica os braços para cima e eleva muito os joelhos ao “pedalar” como estando a agarrar os degraus duma escada para subir para a superfície. Este tipo de análise tem que ser feito rapidamente para evitar a perda de controlo total do mergulhador levando-o à exaustão.
Resumindo, todo e qualquer sinal que mostre que um mergulhador não está calmo, à vontade e atento ao ambiente que o rodeia pode significar que qualquer coisa de anormal se está a passar, devendo ser analisado rapidamente.
4. SINAIS DE EMERGÊNCIA EM IMERSÃO
Ainda que o campo de visão seja reduzido bem com a possibilidade de comunicação existem sinais anunciadores de estarmos na eminência de uma situação anormal.
A libertação abundante de bolhas que indica uma respiração descontrolada, movimentos rápidos das barbatanas em situações que não se justificam e olhos desmesuradamente abertos são sinais característicos dum mergulhador que está em dificuldade.
Um mergulhador que continua a descer apesar de estar a dar às barbatanas com força necessita, certamente, de ajuda.
Movimentos estranhos e uma movimentação excessiva dos braços para se deslocar, ao contrário do que nos foi ensinado e tantas vezes praticado, o arrancar súbito da máscara e do regulador e o nadar precipitadamente para a superfície são outros tantos sinais que devem chamar a atenção para algo que não está a correr bem.
Esta última atitude é extraordinariamente perigosa pois o mergulhador em pânico pode fazer uma sobrepressão pulmonar e ficar inconsciente antes ou ao chegar á superfície, podendo nem sequer ter tempo para se colocar em flutuabilidade positiva.
Ao contrário do que se disse, também uma apatia total em relação ao meio que o rodeia pode ser um sinal de pânico que exige da parte do “MS” um tratamento igual ao aplicado aos casos anteriores.
O MERGULHADOR SALVADOR “MS” DEVE ESTAR SEMPRE ATENTO A QUALQUER COMPORTAMENTO ANORMAL, SOBRETUDO DA PARTE DE UM MERGULHADOR EXPERIMENTADO.