Arqueologia vs. Resgate / “Caça ao Tesouro”
O resgate de salvados remonta à Antiguidade, sendo amplamente conhecido o papel dos urinatores (mergulhadores romanos) no mundo romano e as implicações económicas e sociais da promulgação, ainda na Antiguidade Clássica da lex Rhódia (início do Direito Internacional Marítimo). Igualmente documentadas encontram-se as tentativas de resgate por mergulhadores dos valores transportados pela nau da esquadra de Gonzalo de Carvajal perdida em 1555 na Carrapateira ou pelo navio San Pedro de Alcântara naufragado em 1786 na Papoa, em Peniche.
É por volta desta data que o resgate se torna uma grande indústria, beneficiando do surgimento do sino de Halle e, mais tarde, do escafandro de “pés-de-chumbo”.
A caça ao tesouro, por sua vez, não é mais do que a prática do resgate marítimo aplicada ao património cultural subaquático. À escala internacional, a caça ao tesouro, tal como a arqueologia Subaquática, nasceu e desenvolveu-se com o surgimento do escafandro autónomo. Na maioria dos países do mundo, a caça ao tesouro é praticada dentro de um quadro legal, não significando legalmente pirataria… Na verdade, define-se como um empreendimento de natureza económica, que incide sobre o património cultural subaquático e cujo objetivo é a obtenção de riqueza. Mas, quais as consequências desta atividade?

O centro de gravidade destas empresas não é obviamente o mesmo da atividade arqueológica. Com efeito, estas apenas promovem investimento científico e técnico ao nível da inventariação do património cultural submerso. Posteriormente, debruçam-se apenas sobre os arqueossítios com valor histórico e “financeiro”. Será que a Arqueologia e os países onde estas empresas operam retiram algum benefício da atividade destas empresas?
Na realidade, não… O país de acolhimento vê-se espoliado do seu património, comprador por colecionadores e por museus estrangeiros. A Arqueologia perde informações e conhecimentos que jamais conseguirá recuperar! Por mais que arqueólogos que se encontrem atualmente envolvidos nas atividades destas empresas, os danos são sempre irremediáveis.
Podemos, pois, afirmar que enquanto o resgate de salvados tem como objetivo principal a recuperação de objetos por razões comerciais, a Arqueologia procura recuperar toda a informação por razões estritamente científicas e/ou patrimoniais. Enquanto a primeira é uma atividade de índole estritamente económica, a segunda é uma atividade de índole científico-cultural.