Autorregulação Térmica
REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL
Os processos metabólicos normais do organismo produzem calor. Este calor tem que ser dissipado porque a acumulação do mesmo levaria à degradação dos enzimas, e à lesão e morte celular.
Em termos fisiológicos, existe o conceito de temperatura central e a temperatura periférica.
TODOS OS MECANISMOS ATUAM NO SENTIDO DE MANTER UMA TEMPERATURA CENTRAL ESTÁVEL, JÁ QUE É A ESTE NÍVEL QUE SE ENCONTRAM TODOS OS ÓRGÃOS ESSENCIAIS PARA A VIDA E PARA O NORMAL FUNCIONAMENTO DO ORGANISMO
A temperatura periférica é a temperatura ao nível da pele e dos membros, e pode ser muito variável, já que para manter a temperatura central estável, a periferia sofre alterações importantes a nível de circulação sanguínea de forma a permitir perdas ou poupança de calor.
Para manter a temperatura corporal dentro dos limites indispensáveis para a vida, o corpo tem que perder uma quantidade de calor igual ao que produz (homeostase). Isto significa que para garantir a homeostase a nível central, sacrifica-se a homeostase a nível periférico.
Esta perda de calor é conseguida através de vários mecanismos, nomeadamente:
- Circulação sanguínea – pulmões e pele (vasoconstricção e vasodilatação)
- Pele (condução, convecção e radiação)
- Suor (evaporação).
PERDA DE CALOR CORPORAL
ATRAVÉS DA PELE
O principal local por onde se perde calor é a pele, e no caso do mergulho este facto leva a grandes dificuldades em manter a temperatura central.
Os mergulhos processam-se em geral em águas com uma temperatura inferior à temperatura do corpo, e a pele está em contacto com essa mesma água que tem uma condutividade de calor muito elevada.
A junção destes dois fatores (temperatura mais baixa e elevada condutividade) resulta numa perda importante de calor durante uma imersão.
Para manter uma temperatura corporal estável, um mergulhador sem proteção térmica (fato) tem que fazer um mergulho em águas com uma temperatura de 33ºC. Com temperaturas inferiores a esta, o ritmo de perda de calor dependerá da existência ou não de proteção térmica e da temperatura da água.
ATRAVÉS DAS VIAS RESPIRATÓRIAS
Para alem do calor que se perde através da pele, também existem perdas importantes através das vias respiratórias.
À superfície, ao inspirar, o ar que entra nas vias aéreas superiores é aquecido de forma a chegar aos pulmões com uma temperatura semelhante ou igual à temperatura central, assim evitando a perda de calor durante a respiração.
Como durante um mergulho se respira pela boca e não pelo nariz, uma grande parte do trajeto importante no aquecimento do ar não é utilizado, e assim o ar chega aos pulmões menos aquecidos – isto significa que se perde muito calor a nível pulmonar.
DENSIDADE DO AR E TEMPERATURA
Outro aspeto muito importante, é que durante este processo de aquecimento do ar perde-se calor, e quanto mais denso é o ar que se respira, maior é a quantidade de calor necessário para elevar a temperatura do mesmo. Durante uma imersão, o ar é sempre mais denso do que à superfície, e portanto as perdas de calor durante um mergulho são sempre maiores – e quanto maior a profundidade, maiores a perdas.
HUMIDADE DA MISTURA RESPIRATÓRIA
Outro aspeto não menos importante é facto do ar respirado através do regulador baixar duma pressão elevada (pressão dentro da garrafa) para uma pressão ambiente baixa (2º andar do regulador) e praticamente sem vestígios de humidade.
VASOCONSTRIÇÃO
Na água fria a resposta do organismo para reduzir as perdas de calor é a vasoconstricção. Este processo implica a redução do diâmetro dos vasos à periferia, com menor afluxo de sangue, e portanto menores perdas de calor. Este processo tem limites fisiológicos (há um mínimo de sangue que tem que ser fornecido para manter a oxigenação dos tecidos) o que na prática significa que há sempre perdas de calor durante um mergulho.
TRABALHO MUSCULAR
Qualquer trabalho muscular resulta no aumento do calor produzido, e portanto um aquecimento dos tecidos, é por esse motivo que há tremores musculares quando se temos frio. No entanto, dentro da água este mecanismo fisiológico tem o efeito contrário, levando a um aumento das perdas, por dois motivos:
- Ao aumentar o trabalho muscular, tem que se aumentar o fluxo sanguíneo por haver necessidade acrescida de oxigénio, e assim, vai-se contrariar o efeito protetor da vasoconstricção.
- Ao movimentar os membros, a água em contacto com corpo do mergulhador circula mais, com um subsequente aumento das perdas de calor. O exercício também leva a um aumento da frequência respiratória, e portanto a um aumento das perdas calóricas a nível dos pulmões.
Como se pode ver, existem múltiplos mecanismos fisiológicos cujo objetivo é manter uma temperatura central estável, para proteger os órgãos nobres e as funções vitais do corpo. Infelizmente para o mergulhador, todos estes mecanismos funcionam melhor fora da água, porque dentro da água normalmente há mais perdas de calor, e portanto existe sempre o perigo da hipotermia.
O TEMPO QUE DEMORA PARA SE INSTALAR A HIPOTERMIA DEPENDE DA PROTEÇÃO QUE O MERGULHADOR LEVA E DA TEMPERATURA DA ÁGUA, PORQUE AS PERDAS DE CALOR SÃO INEVITÁVEIS